Entrevista a Bruna Nóbrega - Jornalista do JM - Madeira

Clube Entrevista Maio de 2020

Bruna Nóbrega natural da Ilha da Madeira, jornalista do JM - Madeira é a nossa convidada do mês de maio. Com uma infância feliz que daria uma bela reportagem, foi na UTAD que encontrou uma boa solução possível e determinada para a sua vida profissional. A matemática foi alvo (jornal) de notícias uma vez na sua vida. As cidades de Vila Real e Porto também fazem parte do seu lugar geométrico de eleição. Porque o jornalismo pode ser uma ciência (de comunicação), esta é a geometria desta entrevista que vai direto até si nesta fatorização...

Uma reportagem da sua infância seria…
Difícil responder a essa questão. A minha infância foi muito feliz. Rodeada pela família e primos. Os meus dias eram passados na casa da minha avó. Acho que não era justo escolher um único momento. Fui uma criança muito feliz. 

A Ilha da Madeira é um dos locais mais bonitos no mundo. Porquê?
Porque é minha. É para lá que posso sempre voltar, não importa as voltas que a vida dê, será sempre o meu porto de abrigo. A tudo isto adiciona-se o facto de ser, sim, um dos locais mais bonitos do mundo, pelas paisagens, pelas pessoas e pela gastronomia. As cores que pintam a Madeira são as mais brilhantes de todas as paletas que já vi.

A matemática alguma vez foi notícia na sua vida?
Apenas uma vez. Na altura ainda era estagiária no Jornal de Notícias (JN) do Porto. Disseram-me "vais para uma reportagem que envolve desporto e matemática", confesso que fui sem saber muito bem ao que ia. Ao chegar à escola onde seria dada a palestra presidida pelo professor Carlos Marinho, apercebi-me logo que se tratava de algo inédito e diferente. Até hoje recordo-me desse trabalho que fiz, marcou completamente pela diferença. De repente, estávamos numa sala com jornalistas, treinadores e árbitros a ter uma aula de matemática com uma abordagem futebolística. Foi uma experiência engraçada que, com certeza, vou levar para a vida.

É licenciada em Ciências de Comunicação pela UTAD. Como foi essa aprendizagem?
Cresci muito na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) tanto a nível pessoal como profissional. Tudo o que sou hoje enquanto jornalista foi a "mui nobre universidade" que me ensinou. O facto de os estudantes de CC terem a oportunidade de trabalhar num estúdio e editar as próprias peças na 'UTAD TV', tendo a autonomia de fazer as suas próprias reportagens foi algo que me instruiu imenso desde o primeiro ano de faculdade. 

Vila Real e o Porto são cidades que fazem parte do seu percurso da aprendizagem. Como se definem estas cidades?
Vila Real vai sempre ocupar um lugar muito especial no meu coração. Bem diz o ditado de Fernando Pessoa "primeiro estranha-se, depois entranha-se", foi assim que começou este grande amor pelo "Reino Maravilhoso". Já o Porto... surgiu na minha vida quando fui tirar o mestrado em Jornalismo, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Na altura, confesso que foi muito difícil a adaptação à cidade, tive para desistir e voltar para Vila Real. Tinha todos os meus amigos lá, na altura o meu namorado também era de lá, foi difícil gerir tudo no início. Mas a invicta ensinou-me a gostar dela, aos poucos e poucos, e quando me dei conta já estava a defender a tese de mestrado e a arrumar as malas para regressar à ilha.

Qual é a razão da escolha do jornalismo como profissão?
Não era essa a minha ambição inicial. Tirei Ciências e Tecnologias no secundário. Queria ser pediatra. Arrastei esse gosto durante os três anos do secundário, mas quando chegou a hora de escolher... algo me disse que não era aquele curso que devia seguir. Sempre nutri gosto pela comunicação, gostava muito de falar com pessoas, interagir, debater ideias... acho que o poder de comunicação já nasceu comigo. 
Por isso, na decisão final acabei por colocar numa das minhas opções, um pouco à revelia, Ciências da Comunicação e foi assim que se começou a desenhar a minha história profissional. 

Características principais que um jornalista tem de ter são…
Estou muito no princípio ainda, mas já deu para perceber que hoje em dia é preciso um grande poder de comunicação, improvisação, perspicácia, simpatia e altruísmo. Um jornalista tem que se reinventar diariamente, em tudo o que escreve. Todos os dias são histórias, pessoas e desafios diferentes.

Atualmente é jornalista do JM – Madeira. Como é trabalhar neste jornal?
É uma aprendizagem diária. É tentar me superar todos os dias, dando sempre o meu melhor. Mas o que mais me surpreendeu foi a equipa. Confesso que tenho tido sorte nas redações que me têm acolhido. Já no JN todos os jornalistas eram pessoas incríveis e humanas. No JM não é diferente. Estão sempre prontos para ajudar, com um sorriso e uma piada para dizer. Há dias que estou menos motivada e são eles que me 'puxam' para cima. 

Como vive enquanto jornalista este problema da Covid 19?
Acho que ninguém estava à espera que a situação chegasse a Portugal com esta dimensão. Tinha estado no Porto no dia 8 de março, quando começaram a aparecer os primeiros casos. Cheguei à Madeira e tinha a sensação que estava a salvo. Muito me enganei. Nessa mesma semana lembro-me que começaram a 'chover' e-mails de cancelamentos e adiamentos. Foi como uma bola de neve. Fora o stress constante de toda a situação a que estávamos sujeitos. Foram dias penosos. Agora, acho que todos os jornalistas aprenderam a viver com o tema covid-19 na sua vida e no seu trabalho. 

Como são os seus tempos livres?
Antes da pandemia tentava sempre ocupar o meu dia para visitar pontos diferentes da Madeira, aproveitava para estar com os meus amigos e com a minha família. Agora, as folgas são vividas em confinamento, tentando ocupar o tempo da melhor forma. Ler, ver séries, filmes, cozinhar....

O matemático Alfred Rényi disse um dia que "quando estou infeliz trabalho matemática para ficar feliz. Quando estou feliz, trabalho matemática para me manter feliz". O que a faz feliz?
Chegar ao fim do dia e fechar a página satisfeita com o trabalho que fiz. 

Publicado/editado: 01/05/2020