Linhas e Pontos por Carlos Marinho

Eixos de Opinião janeiro de 2014



 

Este espaço vai ser dedicado a aspectos simples da vida em contexto real, em que a matemática pode entrar como elemento surpresa. Em síntese, estas "linhas" terão como base "pontos" comuns da nossa vida, em que a objectividade da Matemática pode fazer compreender alguns "problemas" que vão surgindo em contexto real. Como afirmou Pitágoras, "Todas as coisas são números". Nesta rubrica tudo cabe... até a matemática.      

   

Carlos Marinho -  Professor de Matemática        



  

Artigo de janeiro de 2014         

 

Título: Ramanajuan e o Tuberculoso 1729? 




Pela primeira vez em 10 anos, a tuberculose subiu no norte do país. Lembrei-me logo de...Ramanujan. O número de 1080 casos diagnosticados em 2012, contra os 1064 de 2011. Mais 16 casos. Os especialistas não sabem definir, contudo, se a esta inusitada subida se deve a uma maior incidência no diagnóstico da doença ou se por outro lado, terá a ver com as dificuldades sociais, humanas e financeiras de uma parte da população portuguesa.  Refira-se que no início do século XXI, em 2002 os casos quase duplicavam, com mais de 1900 casos. Uma grande evolução que esperemos que associada a uma politica de cortes cegos não venha pôr em causa todo o trabalho realizado até agora. E porque razão me lembrei de...Ramanujan? Por isto...

O início de Srinivasa Ramanujan...

Srinivasa Ramanujan foi um matemático extraordinário que nasceu em Erode a 22 de dezembro, uma pequena localidade da Índia em 1887. Conta-se que a sua mãe era estéril mas era filha de um brâmane (significa "aquele que é versado no conhecimento de Brahman - a alma cósmica"). O brâmane (seu avô) terá rezado à deusa Namagiri e foi atendido. Na véspera do nascimento de Ramanujan, essa deusa apareceu à sua mãe e anunciou que o menino seria um homem extraordinário. E foi!

6 mil Teoremas...

Aos cinco anos entra na escola e coleciona admiradores com a sua impressionante inteligência. Parecia tudo saber o que lhe era ensinado. Ganha uma bolsa para o Liceu de Kumbakonam, onde desperta pasmo nos colegas e mestres. Os seus biógrafos escrevem que Ramanujan recitava aos seus colegas de escola os algarismos decimais do número pi. Com 12 anos já adorava trigonometria. Na adolescência começou a estudar sozinho séries aritméticas e séries geométricas calculando soluções de polinómios de terceiro e quarto grau. Com 15 anos foi brindado com uma inusitada prenda. Fala-se que lhe ofereceram um livro com mais de 6 mil teoremas, todos sem demonstração. Terá sido essa a sua formação básica. Mas não ficamos por aqui...

Na noite, fez-se dia...

Entre 1903 e 1907 tomou uma decisão unilateral que mudaria toda a sua vida.  Parou com tudo o que achava superfluo. Dedicou todo o tempo a investigar e a pensar matemática. Em 1912, instado por companheiros e amigos, decidiu partilhar os resultados obtidos com 3 notáveis matemáticos da época. Apenas o inglês Godfrey Hardy (considerado o mais promissor matemático) lhe terá respondido. Numa noite fez-se dia, após ter recebido a carta de Ramanujan e, tentado a deitá-la fora, decidiu no entanto, sentar-se com o seu amigo Jonh Littlewood para a ler. Em bom tempo o fez. Puseram-se a decifrar 120 fórmulas e teoremas fabulosos que tinham recebido deste senhor desconhecido da India. Algumas horas bastaram para se aperceberem que estavam diante de um génio…da matemática.

Hardy impressionado...

Hardy ficou tão impressionado que decidiu divulgar e tornar pública a sua própria escala de valores que definisse o que era um génio matemático.  Ramanujan era 100, 80 para David Hilbert, 30 para o seu amigo Littlewood e 25 para ele próprio. Chegou mesmo a comentar algumas das fórmulas enviadas e descobertas por Ramanujan quando com humildade referiu, "era forçoso que fossem verdadeiras, porque se não fossem ninguém poderia ter tido tanta imaginação para poder inventá-las".

Royal Society de Londres...

Em 1914, Hardy convida Ramanujan para trabalhar consigo em Inglaterra, sendo o primeiro indiano a ser admitido na Royal Society de Londres e no Trinity College.

O Fim...

Conta-se aquando da sua estadia no hospital em Londres, Hardy terá ido visitá-lo. Em tom de brincadeira e para amaciar o momento, referiu a Ramanujan que tinha viajado num táxi cuja matricula era o 1729, um número sorumbático e insípido (ver mais em Curiosidade de Ramanajuan em baixo...).

Lamentavelmente, 3 anos após a sua chegada à capital inglesa viria a morrer, não resistindo a uma indómita e fulminante tuberculose. 

 



Por Carlos Marinho


Publicado/editado: 09/01/2014