Intervalos por Fernando Pestana da Costa

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião junho de 2016



 


No ano em que a SPM faz 75 anos, este será um espaço onde a matemática vai ser o tema central todos os dias "uns" de cada mês. Intervalos será o título desta rubrica...                          

   

Fernando Pestana da Costa -  Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática                           



Intervalos por Fernando Pestana da Costa (Presidente da SPM) - Questões e negociações

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião junho de 2016

 

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Título: Questões e negociações

A implementação de um novo procedimento, lei, ou programa, oferece sempre dificuldades várias, umas por resistência ou falta de habituação de quem o vai implementar, outras inerentes ao que vai ser implementado, quer por exigências adicionais conhecidas a priori, quer por problemas ou bugs imprevistos. 


O caso de implementação de novos programas no sistema educativo não tem, neste aspeto, nada de original, antes pelo contrário: o professor terá sempre necessidade de um período mais ou menos alargado de habituação e adaptação às novas exigências e de experimentação sobre a forma mais adequada de trabalhar os assuntos com alunos concretos que tem pela frente. É, portanto, absolutamente natural e expectável que no ano da primeira implementação de um novo programa num determinado ano de escolaridade haja dúvidas, hesitações, atrasos. 


Alguns destes problemas, em particular atrasos no cumprimento do programa no 10º ano, têm sido alvo de alguma atenção da comunicação social e das redes sociais. Claro que para se aferir a pertinência das queixas e a relevância das situações há que ter em consideração vários fatores, os quais são normalmente esquecidos, nomeadamente: (i) o 10º ano é um ano sempre complicado por ser início de um novo “ciclo”: como se comparam os atrasos neste ano letivo com os que são usuais em anos letivos mais “normais”? (ii) o primeiro ano de implementação de um novo programa gera sempre atrasos: como se comparam os atrasos neste ano letivo com os atrasos que ocorreram quando o anterior programa foi implementado pela primeira vez? (iii) quem implementa os programas são professores, alguns dos quais têm ideias a priori sobre o que vão implementar: será que maiores ou menores atrasos estão de algum modo correlacionados com o posicionamento do professor contra ou a favor do novo programa? (iv) se bem que os programas sejam implementados pelos professores, a cultura de trabalho colaborativo dentro da Escola é muitas vezes determinante para a eficácia do planeamento de atividades e do trabalho do professor na sala de aula: como é que os atrasos reportados se correlacionam com a existência ou não desse trabalho prévio?


A falta de esclarecimento destas questões não significa que se deixe de olhar atentamente para as informações que chegam dos professores e das escolas e se tente a elas responder de um modo sério e construtivo. É neste espírito que a SPM está presentemente a participar em dois grupos de trabalho constituídos no Ministério da Educação e integrando representantes do Ministério, da SPM, da APM, e professores independentes designados pelo Ministério. Estes grupos, um no âmbito do Ensino Básico e outro do Secundário, foram constituídos por convite do Secretário de Estado da Educação e têm o objetivo explícito de, sem alterar os programas e as metas curriculares existentes, produzir orientações de gestão curricular úteis para a sua implementação prática, dando deste modo resposta às questões, dúvidas, e problemas que têm vindo a ser reportados.


Um trabalho desta natureza, envolvendo negociações sobre aspetos de implementação prática de um documento-base existente, é, apesar das dificuldades inerentes a qualquer negociação, uma tarefa para a qual, à partida, se pode ter a expetativa de que produza resultados em tempo útil respeitando o objetivo do convite feito. Assim todas as partes o desejem e trabalhem efetivamente para tal. 


Pela SPM não há dúvidas que sim! 


Publicado/editado: 01/06/2016