À Distância por Daniel Folha

Clube de Matemática da spm



          


Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.         
Daniel F. M. Folha - Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N), Coordenador de Projectos e Protocolos do CIENCEDUC – Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N), Investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP)         
          


Artigo de janeiro de 2013

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Título: ALMA no deserto


No deserto do Atacama, no Chile, cinco quilómetros acima no nível do mar, encontra-se o mais complexo observatório astronómico alguma vez contruído na Terra. Mas ali os telescópios são diferentes. O Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) observa radiação eletromagnética com comprimentos de onda milimétricos e submilimétricos (ou seja cerca de 2000 vezes maiores do que os comprimento de onda da luz visível) e é constituido por um conjunto de antenas que funcionam em conjunto, através de uma técnica designada por interferometria, permitindo obter uma resolução espacial (capacidade de distinguir diferentes estruturas muito próximas na esfera celeste) e uma sensibilidade à radiação (capacidade de detetar objetos muito pouco brilhantes) sem precedentes naqueles comprimentos de onda. O número máximo de antenas em operação será de 66 (54 com diâmetro de 12 m e as restantes com um diâmetro de 7 m), com possibilidade de expansão futura, mas podendo operar em configurações com um menor número de antenas. O observatório deverá ficar concluído durante este ano de 2013, mas encontra-se já disponível para a realização de observações científicas nalgumas configurações.


Crédito: ALMA

Para funcionarem em conjunto, cada antena do ALMA é ligada por fibras óticas, com comprimentos que chegam aos 15 km, a um dos supercomputadores mais potentes do mundo (com 134 milhões de processadores e capaz de efetuar 17x1015 operações por segundo), especialmente desenhado e programado para processar o sinal transmitido pelas antenas. Estas, por sua vez, têm que trabalhar em sincronismo com uma precisão de 1 milionésimo de milionésimo de segundo (1 parte em 1012) e o comprimento das fibras óticas que as ligam ao supercomputador tem que ser conhecido com uma precisão da ordem dos centésimos de milímetro (a largura típica de um cabelo humano). Para mais informações acerca do modo de funcionamento do ALMA, pode consultar o espaço www.almaobservatory.org/es/sobre-alma/como-funciona-alma, onde encontra um texto explicativo mais detalhado (em língua inglesa ou espanhola).




O supercomputador que processa e combina o sinal recebido das antenas do ALMA.  

Crédito: ESO (www.eso.org/public/images/eso1253a)
 
O ALMA é desenvolvido e operado através de uma parceria constituída pelos países membros do Observatório Europeu do Sul (ESO), entre os quais se encontra Portugal, pelos Estados Unidos da América, Canadá, Japão e Taiwan, em cooperação com o Chile e dará importantíssimas contribuições para o conhecimento do universo e da sua evolução, nomeadamente no estudo das primeiras estrelas e galáxias, no estudo dos processos de formação de estrelas e planetas e no estudo dos processos químicos que ocorrem no espaço interestelar. Apesar de se encontrar a operar em configurações que ainda não permitem que seja utilizado  todo o seu potencial, alguns resultados importantes foram já obtidos com o ALMA. Um exemplo é a identificação de uma etapa crucial na formação de planetas gigantes (ver www.eso.org/public/portugal/news/eso1301).

Votos de excelentes descobertas, ALMA!



Todos os meses, no dia 13 de cada mês:



Publicado/editado: 12/01/2013