Fim da 1ª História de Contos de 3º Grau - A Folha de Excel.

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Contos de 3º Grau - A Folha de Excel - 6ª Parte por Paulo Correia 

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6º Parte e última do 1º episódio de Contos de 3º Grau. Chegou ao fim o 1º episódio. Leia aqui a parte final por Paulo Correia. Não perca esta rubrica que vai acabar em livro. Ler em pdf todo o conto - Clicar Aqui

 

Início do Episódio - 1ª Parte por Carlos Marinho - Dia 1 
No 1º dia do mês mais pequeno no ano, Matias Bordalo assistia na sua sala de estar à abertura do noticiário das 20 horas. Notícia de abertura: a crise no país. Cortes profundos descreviam uma atmosfera aterradora. Investigador e cientista, de imediato desenhou um plano para fazer face às ciclópicas dificuldades. Num gesto indómito, convocou a família e, em breves instantes estava realizada uma cimeira familiar sem precedentes. Volvidos alguns minutos estava elencada uma lista grosseira de gastos a cortar sem dó nem piedade. Em folha de excel… 
No dia seguinte, pôs mão à obra. Logo pelas 9 da manhã, desmarcou com o técnico de eletricidade. Sem perceber nada do assunto, subiu com destreza uma escada estrategicamente colocada, pisca-polos na mão. Objetivo: arranjo de um candeeiro de teto. Inicia a tarefa. Contudo, surge o inesperado! Buuuuuuuummmmmm! Houve-se um estrondo que estremeceu com os arrimos da casa. O Matias Bordalo tinha apanhado um choque que o deixou estendido e inanimado. Foi socorrido com diligência, pela mulher Sara Berenguel, médica, enquanto os filhos Maria e Bernardo assistiam inquietados. 
As primeiras palavras do Matias quando recuperou foram: “Eu sou Deus! Tudo o que me rodeia é Deus! “ 
2ª Parte por José Carlos Santos - Dia 6 (Continuação) 
Sara e os filhos ficaram estarrecidos. Matias e religião não combinavam de maneira nenhuma! Acreditar que agora ele seria Cristiano Ronaldo ou imperador do Japão, ainda se podia aceitar. Mas… Deus?! A primeira a reagir foi Maria, que se baixou, pôs-lhe a mão no ombro e perguntou «Pai, como é que te sentes?» Matias olhou à sua volta, com uma expressão simultaneamente tranquila e de auto-confiança. Todos tiveram a sensação estranha de que Matias estava a olhar não para eles mas sim através deles. 
Matias ergueu-se. Sara ainda tentou convencê-lo a ficar deitado mais algum tempo, mas era como se a voz dela não alcançasse a mente dele. «Temos que pôr alguma ordem nisto», disse Matias, sem quem se percebesse so o «nós» se referia ou não às outras pessoas presentes. Durante alguns segundos Matias manteve-se de pé a olhar para a parede com ar de grande concentração. Sara ia fazer-lhe uma pergunta, mas bruscamente todos ouviram e sentiram uma grande pancada à distância. «O que é isto?», quis saber o Bernardo. Ninguém sabia, mas as pancadas foram-se sucedendo e era claro que o que quer que fosse que as produzia estava cada vez mais próximo. Bruscamente uma luz branca e muito intensa veio da janela. As pancadas pararam. 
3ª Parte por Filipe Oliveira (Continuação)  
O condutor desligou os máximos e saiu do automóvel com ar aflito. O pneu furado, que já devia vir a arrastar a umas largas centenas de metros, deitava fumo e libertava um odor pestilento a borracha queimada. Bateu à porta da família de Matias. Maria veio à porta. 
- Bom dia menina, peço desculpa por incomodar, mas será que me podiam emprestar uma chave de cruz? Preciso de mudar um pneu… 
- Vou perguntar ao meu pai, só um momento. 
Maria deixou a porta encostada enquanto volveu para dentro. 
-Pai, sentes-te melhor? 
-Sim filha, já estou melhor, obrigado. Foi um disparate tentar arranjar o candeeiro sem desligar primeiro o quadro. Quem está à porta? 
-É um senhor que precisa de ajuda…Precisa de uma “chave de cruz”. Foi pelo menos o que pediu. Tens alguma? 
-Sim, claro, pede-lhe por favor para aguardar um pouco, já lá vou. 

 4ª Parte por José Veiga de Faria (Continuação) 
- Não devias ter deixado a porta entreaberta: nos tempos que correm nunca se sabe quais as reais intenções de quem nos bate à porta…Vou passar a cara por água para me recompor e já vou ver o que consigo fazer pelo nosso visitante. 
Matias dirigiu-se para a casa de banho enquanto Maria corria para a porta. No pequeno corredor viu Bernardo a espreitar à porta do seu quarto. Este ladino e divertido atirou-lhe: 
- Então pai? Passaste-te? Com a mania que és Deus. Espero que saibas o que os antigos gregos faziam a quem se metia com os deuses… 
- Foi o susto: convenci-me que só como Deus me conseguia subtrair às inexoráveis leis da Física que se conjugavam para me tramar (a gozar com o filho pensando no Rui Veloso: bolas ele tinha visto as estrelas…). 
Na casa de banho, e enquanto passava as mãos molhadas pela cabeça, ansiava por que o pedido de ajuda para concertar o pneu não fosse mais do que isso. Quando alguém intersecta a órbita da nossa vida até que ponto pode alterá-la?  Sairia vivo da experiência?! Bolas! Se calhar ainda estava apanhado.. 
5ª Parte por Sílvio Gama (Continuação)    
Claro que sairia vivo. Afinal, só Mefistófeles lhe poderia fazer alguma frente e... mesmo esse! Procurou a “chave de cruz” e armado de uma autoconfiança que Sara desconhecia, dirigiu-se ao condutor. «Aqui tem, mas depois de       mudar o pneu, terá de me conduzir até à igreja. Quero falar com o padre.»  
Dito e feito. Três quartos de hora mais tarde, diante da escadaria da igreja, Matias dizia ao condutor «Bom homem, eu esteja contigo!». Entrou na igreja e com passos descontraídos, próprios de quem caminha na sua casa, dirigiu-se à sacristia. Nervoso, o padre Tobias terminou a conversa que mantinha, então, ao telefone: <<...sim, sim, Sara... esteja tranquila... acaba de chegar.>>  

- Tobias, sou Deus. Recebe a minha paz! 
- Ora viva, Matias. É bom saber-te cheio de Deus. Nestes tempos de crise sentimos Deus mais de perto de nós. Deus que está em todos nós! – e, elevando, por segundos, o olhar, interiorizou: <<Meu Deus, depois de uma manhã inteira a ouvir confissões, só me faltava mais esta!>>. 
- Padre, venha comigo ver as belas flores do adro da igreja. 
Tobias seguiu-o, não ousando contrariá-lo.  
6ª Parte e Última - Fim do Episódio por Paulo Correia

Matias caminhou depressa, à frente, decido a provar a sua tese enquanto repetia convicto “Eu sou Deus!” Quando chegou à rua, entorpecido pela forte luz do sol, viu um enorme elefante, e sobre ele um palhaço – era mais um sinal, depois da chave em cruz, da luz que anunciou o homem, e da origem de tudo – a folha de excel – este era mais um sinal de que Ele próprio estava em toda a parte… até na folha de excel!

Era a altura de deixar claro que era mesmo Deus. Parando em frente do elefante, ergueu a mão direita, qual Moisés a separar as águas, ou um Homem-Aranha a lançar uma teia. E disse: “Pára elefante!”

O palhaço e todos os artistas do circo deixaram subitamente de promover o espectáculo dessa noite e concentraram-se no propósito único de gritar a plenos pulmões “Saí… saía… afaste-se… fuja”. O padre Tobias gritava-lhe: “És Deus - age como tal, e humildemente sai daí…”

Então aconteceu algo extraordinário – o elefante com uma divina trombada projectou Matias para a berma da estrada e prosseguiu o seu caminho. O Padre Tobias aproximou-se e levantou do chão a cabeça de Matias. Atordoado Matias perguntou: “Então não me disseste agora mesmo que eu era Deus?”

O padre respondeu: Sim, Matias, mas tens de prestar mais atenção! Deus tem as suas prioridades e estava a enviar-te do céu "Outra" mensagem através do palhaço para saíres da frente do elefante!”

 

FIM
Dia 1 de Março 2ª História de Contos de 3º Grau...


Publicado/editado: 25/02/2013