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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
Daniel F. M. Folha - Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N), Coordenador de Projectos e Protocolos do CIENCEDUC – Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N), Investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP)
A primavera de 2013 chegou ao hemisfério norte. Climatericamente pode não parecer, mas lá que chegou, chegou! Eram 11h02 no dia 20 de março, horário de Portugal continental. Afinal o que aconteceu naquela data e àquela hora para marcar o início da Primavera setentrional? É uma história que envolve o Sol, dois planos e um ponto.
Legenda: PNC é o polo norte celeste, PSC é o polo sul celeste,
PNE é o polo norte eclíptico, PSE é o polo sul eclíptico.
Figura adaptada de http://christophercrockett.com/astrowow/ecliptic/.
A linha do equador terrestre define o plano do equador cuja interseção com a esfera celeste dá origem ao equador celeste. Os movimentos aparentes diurnos ocorrem ao longo de círculos paralelos ao equador celeste e devem-se ao movimento de rotação da Terra. O centro de massa do Sol, o centro de massa do sistema Terra-Lua e o seu respetivo vetor velocidade em volta do Sol, definem um plano designado por plano da eclíptica. De um modo aproximado, mas mais simples, o plano da eclíptica corresponde ao plano da órbita terrestre. Da interseção do plano da eclíptica com a esfera celeste resulta a linha eclíptica. Esta, por sua vez, corresponde ao percurso anual aparente do Sol na esfera celeste, que é resultado do movimento de translação da Terra. Uma vez que o eixo de rotação da Terra está inclinado de 23,5 graus em relação ao eixo orbital, também os planos equatorial e eclíptico estão inclinados desse valor. A interseção dos dois planos define a linha [reta] dos equinócios, e a sua interseção com a esfera celeste define dois pontos: o equinócio de outono e o equinócio vernal (ou ponto vernal). O movimento aparente do Sol é a sobreposição do diurno e do anual, resultando numa trajetória em forma de espiral a três dimensões que atravessa o plano do equador nos equinócios e atinge a maior distância angular ao equador celeste nos solstícios. A primavera no hemisfério norte tem inicio no exato instante em que o Sol se encontra no equinócio vernal.
Agora, que o Sol já passou pelo ponto vernal esperemos que a Primavera climatérica não demore muito a aparecer. Quando chove muito, como nos últimos tempos, tento consolar-me com o facto de que este nosso planeta, com tanta água no estado liquido, é afinal excelente para nós. Coisas de astrónomo... Encontrar outro com as mesmas caraterísticas, em volta de outra estrela é um santo graal para a Astronomia atual. Mas esse é um assunto para outro dia...