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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
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Galáxia de Andrómeda: número de estrelas na ordem do bilião (1012), ou seja um número superior ao dobro do número de estrelas da Via Láctea; situada a uma distância de 2.5 milhões de anos luz; em rota de colisão connosco, neste momento com uma velocidade de aproximação à Via Láctea igual a cerca de 110 km/s. A colisão ocorrerá daqui a cerca de 4 mil milhões de anos, intervalo de tempo semelhante à atual idade da Terra, e estará concluída cerca de 2 mil milhões de anos depois.
Dadas as grandes distâncias entre estrelas numa galáxia (ver “À Distância” de maio de 2013 – Espaço Vazio), numa colisão de galáxias a colisão entre estrelas não é comum. A forma das galáxias será distorcida por ação da força gravítica, muitas das estrelas serão lançadas para órbitas muito diferentes das atuais, e a interação entre nuvens de gás e poeiras dará origem a uma fase de intensa produção de novas estrelas. Quando o processo de colisão estiver terminado, daqui a cerca de 6 mil milhões de anos, o Sol, como resultado da sua evolução normal, ter-se-á transformado numa estrela gigante vermelha, a Terra, se ainda não tiver sido completamente envolvida pelo Sol, será um planeta infernal despojado de toda a vida que nele possa ter existido, e no lugar de duas galáxias em espiral ficará uma única galáxia gigante elítica.
Encontros galácticos desta natureza abundam no universo observável e mostram-nos as diferentes fases da colisão de galáxias. Uma pesquisa por “colliding galaxies” no Google produz um conjunto de imagens bem representativas do fenómeno.
A imagem seguinte contém uma sequência de ilustrações que mostra as fases de aproximação, colisão e posterior junção das duas galáxias, vistas por um observador situado no local onde hoje se encontra o Sistema Solar, com o tempo a progredir da esquerda para a direita e de cima para baixo, correspondendo respetivamente a: atualidade, 2 mil milhões de anos, 3.75 mil milhões de anos, 3.85 mil milhões da anos, 3.9 mil milhões de anos, 4 mil milhões de anos, 5.1 mil milhões de anos e 7 mil milhões de anos.
Crédito: NASA, ESA. Imagem original em aqui.
Uma simulação computacional obedecendo às leis da Física, partindo das condições atuais, pode ser vista aqui.
Quatro mil milhões de anos é muito tempo... Irá a espécie humana, ou espécies nossas descendentes, testemunhar todas as fases da colisão de Andrómeda com a Via Láctea? Qualquer resposta, melhor ou pior informada, é especulativa. Uma coisa é certa, para testemunhar tal colisão a espécie terá que abandonar o nosso planeta e colonizar outras partes da Galáxia.
P.S.: “despojado de toda a vida que nele possa ter existido” com a salvaguarda de que vida é algo muito adaptável e, se lhe derem tempo, quem sabe se se poderá adaptar a condições que hoje podemos classificar como “infernais”.