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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
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Setembro é um mês que significa início de um novo ciclo para muita gente, em particular para as pessoas que participam da vida das escolas e universidades. É um novo ano escolar que se inicia. É o início de um curso. É, muitas vezes, o início de uma carreira.
Há duas décadas eu tinha um destes inícios. Estava no princípio dos meus estudos de doutoramento. Era, também, o princípio de uma carreira no mundo da ciência, em particular da Astronomia. E já na altura me fascinava um outro início... O dos astros que mais vemos quando olhamos para o céu noturno: as estrelas. Estrelas jovens e o seu ambiente circum-estelar haveriam mesmo de ser o objeto de estudo dos meus trabalhos de investigação.
A formação de estrelas é um processo violento. À medida que gás e poeiras, numa nuvem molecular interestelar, colapsam para formar uma ou mais estrelas, grandes quantidades desse mesmo gás e poeiras são ejetadas da proximidade da protoestrela, formando jatos de material que vai arrastando consigo o que lhe aparecer à frente, e formando zonas de deposição de energia que nos aparecem como objetos brilhantes, denominados por objetos Herbig-Haro, ou objetos HH.
Um desses objetos é o sistema HH 46/47, que vemos na imagem seguinte como uma objeto alongado, localizado na parte superior esquerda de uma nuvem escura designada por glóbulo de Bok.
Crédito: ESO/Bo Reipurth. Disponível aqui
O HH 46/47 é resultado de um jato com origem na vizinhança de uma estrela muito jovem situada no interior da nuvem escura. Estudos espectroscópicos (separando a luz recebida nos seus diferentes comprimentos de onda) mostram que o jato se dirige para fora do plano do céu (plano da imagem). Devido à presença da nuvem escura, que impede a passagem de luz visível, um jato dirigido no sentido oposto é invisível na imagem acima. É possível ver esse jato mudando de comprimento de onda...
“Início”... O tema deste texto! Proponho que iniciemos então mais um capítulo na rubrica “À distância...”. Desta vez vou pedir a colaboração do estimado leitor. Tentarei deixar mensalmente um pequeno desafio, ao qual poderá responder através da página do Facebook do Clube de Matemática, ou através da minha página de Facebook (www.facebook.com/daniel.folha), em ambos os casos através de comentários à partilha desta rubrica naqueles espaços.
O desafio deste mês será então: 1) descobrir uma imagem recente do sistema HH 46/47 num comprimento de onda que permita visualizar simultaneamente ambas as componentes do jato emitido pela jovem estrela; 2) identificar o telescópio que obteve essa imagem e a região do espectro electromagnético em que opera; 3) identificar o primeiro autor do artigo científico que resultou do estudo da imagem .
Deixo uma dica: procure no portal do ESO e note que muita da informação lá contida está disponível, também, em língua portuguesa.
Boa pesquisa!