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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
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Uma imagem vale por mais de mil palavras. Mas um espectro vale por mais de mil imagens! Quando queremos estudar objetos que estão a distâncias astronómicas, e por isso fora do nosso alcance, podendo utilizar apenas a luz como veículo de informação, a espectroscopia (separação da luz nos comprimentos de onda – “cores” – que a constitui) é uma ferramenta indispensável.
Crédito: ESO. Disponível aqui http://www.eso.org/public/images/eso0308c/
Este mês apresento uma imagem espectral da estrela HD 100623, cobrindo os comprimentos de onda entre 380 e 690 nanómetros, obtida com o espectrógrafo HARPS (High Accuracy Radial Velocity Planet Searcher), montado do telescópio de 3,6 m do ESO, em La Silla, Chile. Há 10 anos que o HARPS descobre planetas para além do Sistema Solar, contribuindo também para a caracterização desses planetas, dos sistemas planetários em que se inserem, incluindo das estrelas em torno das quais orbitam.
A imagem espectral de uma estrela não é mais do que um conjunto de milhares de imagens dessa estrela, cada uma obtida num comprimento de onda diferente, todas aparecendo em localizações diferentes num mesmo fotograma. Na imagem (fotograma) acima é possível perceber que a estrela não apresenta o mesmo brilho em todos os comprimentos de onda. Seguindo as linhas curvas orientadas mais ou menos na horizontal, o leitor consegue certamente identificar pequenas regiões mais escuras, designadas por riscas espectrais, formadas pela presença de átomos de diferentes elementos químicos, em diferentes estados de energia, na atmosfera da estrela. Através da identificação e do estudo detalhado dessas riscas espectrais é possível determinar, entre outras características, a composição da estrela e a sua temperatura à superfície. Estudando detalhadamente a variação temporal da posição em que as riscas espectrais aparecem no espectro da estrela é possível detetar a presença de planetas em sua órbita.
Seguindo a hiperligação que corresponde à imagem espectral, o leitor pode aumentá-la e visualizá-la em maior detalhe. Um desses detalhes é a presença de pequenos “pontos” brilhantes no espaço escuro entre as linhas curvas orientadas na horizontal. O que serão esses pequenos “pontos” brilhantes? Desafio o leitor a procurar a resposta na hiperligação já referida.
Ainda tem dúvidas acerca da mais valia de um espectro em relação a uma imagem? Encontra uma imagem de HD 100623 aqui. Pode ampliar a imagem utilizando a barra vertical no quadrado da direita. Quantas estrelas consegue ver bem no centro da imagem? Uma! Pois na realidade HD 100623 é um sistema binário, ou seja, é constituído por duas estrelas diferentes que se orbitam mutuamente. A imagem não foi muito útil para chegar a esta conclusão, pois não? Já um espectro...
P.S. No último fim de semana de outubro os relógios deverão recuar uma hora e regressaremos ao horário que está mais de acordo com a posição do Sol ao longo do dia. Relembro o artigo “À Distância...” de Novembro de 2011, em que a temática da mudança da hora é abordada.