O Projecto (Comente o episódio no facebook do clube spm)
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1ª Parte por José Veiga de Faria - Dia 1
Naquela manhã de Dezembro, chuvosa, ventosa e fria, o João tomou o autocarro para a Faculdade com o pensamento agitado. Na sua cabeça fervia um turbilhão de pensamentos: falta de dinheiro, família cheia de problemas, questiúnculas em casa…
Definitivamente tinha de dar uma ajuda. Pegou no telemóvel e ligou para a Marta, colega de Gestão (ele era aluno de Engenharia de Gestão Industrial), que já lhe tinha relatado problemas semelhantes e a quem reconhecia imaginação, iniciativa, capacidade de realização e com uma grande rede de conhecimentos.
- Marta! É o João. Lembras-te da nossa conversa?
- Claro! Mas pareces agitado…
- Tenho duas ou três ideias para projetos de empresas pequenas que podemos lançar em part-time. Com engenho e força ajudamo-nos a nós e às nossas famílias.
- Eu alinho e ponho-me já em campo. Vou falar a duas ou três pessoas e encontramo-nos às cinco no bar da minha Faculdade. Está bem para ti?
- Ya… Força nisso então.
2ª Parte Sílvio Gama - Dia 6
À hora combinada, o João encontrava-se com a Marta que se fazia acompanhar pela Teresa, do curso de Informática, e Jóni, um guitarrista de uma banda rock local. Após as apresentações e as cortesias usuais, os quatro cafés e as respetivas natas com canela, os três ouviram, com entusiasmo, a proposta do João, que parecia ir de encontro às expectativas de todos.
Rapidamente, aquela proposta evoluiu, com os contributos de todos, para a proposta deles.
- Óptimo estarmos todos em sintonia, meus! Vamos para a minha garagem, onde costumo ensaiar com o grupo e lá, tranquilamente, vamos escrever o nosso projecto.
Ao chegarem ao destino, foram recebidos por Micas, um rafeiro adoptado por Jóni.
Os cinco entraram na garagem.
3ª Parte por Paulo Correia - Dia 11
Em poucos dias, a Teresa divulgava nas redes sociais o apoio aos “cavalheiros enduvidados”. De todas as hipóteses de apoio aos senhores (românticos e inseguros) que queriam fazer uma surpresa à sua cara metade, a mais requisitada parecia ser a “serenada personalizada” – Jóni não tinha descanso na adaptação de temas e execução às serenatas. A Marta e o João tratavam das formalidades da empresa e do contato com os clientes e a Marta ainda se divertia a ajudar na escolha de perfumes e flores.
Até o Micas ajudou num serviço, em que entregou, com sucesso, um cesto com um anel num jardim público...
Tudo corria bem até ao dia em que Jóni foi fazer uma serenata à senhora Margarida Reis, na travessa dos Moinhos, às 21:00 horas, de acordo com o estabelecido... o problema é que a Margarida tinha sido apaixonada pelo próprio Jóni na juventude, e como era natural, o noivo de Margarida não fazia ideia, quando contratou o serviço. O próprio Jóni nem se lembrou da Margarida até ela aparecer à janela... qual era a probabilidade de uma coisa destas acontecer?
4ª Parte por Carlos Marinho - Dia 16
Margarida Reis era uma professora de Matemática na casa dos 30 anos, muito pretendida pela sua beleza e inteligência. Daí, a justificação do noivo dela, Pedro Coelho, um promissor político querer fazer-lhe esta surpresa. O casamento seria dia 30 de junho.
- Jóni, o que fazes aqui? Perguntou Margarida.
- Vim fazer uma surpresa (serenata). Faço parte de uma empresa…
Ao lado de Margarida surge uma linda criança com uns 8 anos que o interrompe pela simples presença.
Jóni ao olhar para aquela criança estremeceu dos pés à cabeça. Não compreendia aquele choque...
Margarida do alto da janela, percebendo a sua inquietude, qual Julieta para Romeu, referiu numa voz doce mas afirmativa:
- Esta é a tua filha Matilde!
Jóni deixou cair a guitarra sem conseguir dizer uma palavra, ajoelhando-se de seguida. Em segundos, lembrou-se quando era completamente apaixonado por Margarida mas tinha-a abandonado em nome de uma carreira de músico. Estava em choque…
Segundos depois, surge outra criança à janela igual a Matilde a perguntar:
- Mãe, o que se passa?
Era Beatriz, a gémea de Matilde...
5ª Parte por José Carlos Santos - Dia 21
O Jóni ficou em estado de choque enquanto a Margarida falava com as gémeas.
- Estão a ver aquele senhor? – disse ela – Conheci-o há uns anos, antes de vocês nascerem.
A Marta, que normalmente nem acompanhava o Jóni nestas serenatas mas que, desta vez, tinha ido, não compreendia o que se estava a passar. Em poucas palavras, ele explicou-lhe a situação e ela ficou sem saber o que dizer. Entretanto, a Matilde e a Beatriz já tinham parado de falar com a mãe e esta pôde então perguntar:
- Jóni, porque é que me vieste fazer uma serenata?
- Olha, porque o teu noivo me contratou para isto. Espera um instante.
O Jóni baixou a cabeça, concentrou-se e, ao fim de alguns instantes de silêncio, voltou a erguê-la e começou a cantar ao mesmo tempo que tocava guitarra. Tocou uma música lindíssima e arrebatadora que deixou estupefactas a Margarida, a Marta e todos os vizinhos que por ali passavam. Assim que terminou, virou as costas e foi-se embora, acompanhado pela Marta.
- Vamos – disse ele – tenho muito em que pensar.
6ª Parte por Filipe Oliveira- Dia 26 - Fim do Episódio
O Jóni começou a descer a rua, afoito. Seriam mesmo suas filhas? Esta história não fazia o mínimo sentido. A idade das meninas poderia eventualmente bater certo, mas a verdade é que se lembrava, pouco tempo depois de terminar o namoro, que a Margarida, então com 21 anos, terminou logo a seguir o curso e foi estagiar sem qualquer percalço, o que teria sido impossível se estivesse grávida. E ainda por cima de gémeas...
− Jóni Bigud, ma man, que cara é essa?
Era o Cantiflas, um amigo punk de Jóni, que vivia naquele bairro.
− É pá, ó Cantiflas, nem imaginas, acabei de descobrir que sou pai. De duas gémeas!
− Não stresses! Não me digas que também te tentaram vender essa história? Foi aquela prof. de Matemática?
− Sim! O que sabes sobre isso?
− Bem, já acusou metade do bairro de ser o pai das meninas. Na verdade, elas nem sequer são filhas dela, são umas primas afastadas que estão de visita.
− Que cena! Mas por que faz ela isto?
− Dizem que enlouqueceu. Depois de ter rompido com o Kilas...Lembras-te dele?
− O mau da fita?
− Pois, o mau da fita! Essa é boa! Grande Jóni Bigud, sempre a gozar! Olha pá, Feliz Natal e não penses mais nisso!
− Feliz Natal Cantiflas, e obrigado!
E lá foi o Jóni. Com o cantante na mão, e com o alívio que se seguiu ao susto que apanhou, resolveu ir a tocar rua abaixo.
«Gingando pela rua, ao som do Lou Reed, sempre na sua, sempre cheio de speed, segue o seu caminho, com m&%$S na algibeira, o Chico Fininho, o freak da cantadeira...»