Contos de 3º Grau por José Veiga de Faria - Fim da História de ficção

Contos de 3º Grau - Matemática

Contos de 3º Grau por José Veiga de Faria - Fim da História de ficção de "O Advogado"

Contos de 3º Grau - Matemática

Clube de Matemática SPM


                                     

           1º Sílvio Gama     2ºPaulo Correia     3ºCarlos Marinho    José C. Santos     Filipe Oliveira      José V. de Faria


Título: O Advogado


1ª Parte  Sílvio Gama - Dia 1

O João Ratão esperava o seu advogado numa esplanada do Rossio, enquanto revia, mentalmente, como desligar o seu nome do caso das “swaps” face ao desaparecimento de documentos sobre o assunto na noite anterior. 

O seu advogado era um daqueles que aparece muitas vezes na televisão sempre que alguém importante e com dinheiro tem problemas com a justiça. Já na véspera, numa estação de rádio, o advogado tinha dito que o seu cliente estava inocente, usando uma argumentação semelhante à que tinha usado quando, há uns tempos atrás, um director desportivo teve um aborrecimento com o tribunal.      

A inquietação começava a invadir o Ratão - o advogado já estava quase uma hora atrasado- quando o seu telemóvel tocou. Era o advogado.


2ª Parte por  Paulo Correia - Dia 6

O Dr. Salvado explicou-se... a demora era justificada por uma reunião de emergência com o secretário de estado. Estava quase a chegar e tinha uma proposta tentadora.     

O João ficou mais calmo... até receber outra chamada. Era alguém que se identificou como seu amigo e que estava na posse dos documentos desaparecidos. Estava disposto a entregá-los em troca de um gesto de “simpatia” de 20 000 euros.    

Enquanto desligava o telefone chegou o advogado com a proposta. Ratão seria o bode expiatório do caso, sem prestar declarações, e receberia algum dinheiro e uma nomeação para diretor não executivo de uma grande empresa pública dentro de 3 ou 4 anos... até lá, deveria permanecer discreto.    

João tentava decidir qual das propostas era a mais interessante... ou a mais indecente... estariam relacionadas?     

Antes mesmo de mencionar o outro telefonema, perguntou ao advogado: O que faria o Dr. Salvado? Aceitava?


3ª Parte por Carlos Marinho - Dia 11

- Claro! Vamos ter umas poucas noticias, umas comissões de inquérito…mas no final fica tudo bem! Neste país nunca ninguém foi preso por corrupção…   
- Tem a certeza , doutor?   
- Claro…   
O diálogo entre os dois é interrompido por uma chamada do amigo e sócio do Dr. Salvado, Manuel Pinheiro.   
- Salvado, tens uma televisão por perto?   
- Não…mas posso entrar no café aqui próximo.   
- Faz isso...   
Salvado e Ratão correram em direcção ao café da esquina "o independente".   
Olharam para a tv, onde aparecia em grande rodapé "Última Hora", a tempo de ouvirem a jornalista dizer: "…o juiz Manuel Carneiro, conhecido como o justiceiro, poucos dias após a sua nomeação do processo das swapps, manda prender cinco elementos, entre os quais o ministro…


4ª Parte por José Carlos Santos - Dia 16

O João Ratão, após ouvir (e ver) as notícias por mais um minuto ou dois virou-se para o advogado e perguntou, furioso:  
— Nunca ninguém foi preso por corrupção? E alguma vez tinham prendido um ministro em Portugal?  
Afastou-se imediatamente. Continuava furioso, mas agora não tinha dúvidas quanto ao que precisava fazer: eliminar os documentos comprometedores a qualquer custo. Contactou o «amigo» que os tinha mas só puderam combinar um encontro para daí a três dias, pois era o tempo de que o João Ratão necessitava para obter os 20 000 euros em notas.  
Nos dias que se seguiram, o João Ratão seguiu atentamente as notícias (não se falava de outra coisa) e estava sempre a ver quando chegava a vez de o prenderem, mas isso não aconteceu. Finalmente, no dia e na hora combinados compareceu perante o «amigo» no local combinado: numa casa de banho de um centro comercial. O encontro foi rápido: trocaram envelopes e cada um verificou ter recebido o que pretendia. Quando se ia afastar, aliviado, o João Ratão perguntou:  
— Bom…É tudo?  
— Não — respondeu o «amigo» — falta só mais uma coisa. Vire-se e ponha as mãos atrás das costas. Está preso!


5ª Parte por  Filipe Oliveira- Dia 21

- Ah, ah, ah – riu-se João Ratão. Pode parar imediatamente com este circo, é mais do que evidente que você não é polícia.

- Cale-se e deixe-me colocar-lhe estas algemas, está preso, repito!

- Ouça amigo, desde quando é que a polícia age desta forma? Se estes documentos que me forneceu estivessem  de facto na posse da polícia, poderiam prender-me diretamente, sem necessidade de me apanhar em flagrante delito numa troca. Para além disso, esta compra não é ilegal. Qualquer cidadão pode comprar os documentos que entender ao preço que entender, desde que estejam à venda. Tenho um primo que deu no mês passado 35 mil euros por uma carta manuscrita do António da Costa Cabral, datada de 1841. Veja lá que cinco anos antes da revolução do Minho já temia a Maria da Fonte, é o que confidencia a um amigo nessa missiva.

- A Maria quê? De que diabos está a falar, homem?

- Não sabe? D. Maria II, o Duque de Saldanha, Don Pedro Holstein,...etc, nunca ouviu falar? Eu vi logo: para além de mau ator, é um inculto. Mas deixe lá isso, e explique-me mas é com calma quem é e o que pretende. E quero a verdade, não se meta comigo! Chamo-me João Ratão, mas  não se atreva a contar-me uma história da Carochinha. 


6ª Parte por José Veiga de Faria - Dia 26

 O “amigo” não se descompôs: - Calma homem; tem toda a razão eu sou apenas um pobre funcionário judicial com um contacto no Ministério Público. Ainda tenho muitos documentos que lhe podem interessar.Venha tomar um café ao Café do Lino ali na esquina e a gente conversa...

Ratão, atónito, seguiu-o até à mesa do café, à pinha àquelas 11 horas da manhã.

- Está ver esta frequência: ex-governantes, juízes, políticos, jornalistas, construtores, autarcas, médicos, farmacêuticos, polícias até; tudo se junta aqui e aqui se cozinham grandes golpadas, extorsões, encobrimentos, um nojo enfim. Já ganhei aqui muito dinheiro.

A televisão transmitia alto uma coboiada: num bar do Texas quatro bandidos jogavam ao poker. De repente põem as cartas na mesa: todos tinham quatro ases!... Logo irrompeu, a partir do ecrã, um terrível tiroteio que encheu a sala e alvoroçou os presentes…

Então o “nosso amigo” pega no telemóvel, afasta-se, digita um número, e diz apenas : avancem.

Cinco minutos depois entreviram-se flashes azuis através dos vidros das portas, pneus chiaram, soaram passos rápidos, as portas abriram-se com violência e, rodeada de polícias da força de intervenção com metralhadoras em punho, sensual e determinada, estava a juíza do DIAP Belchior Garçonne. Nas outras portas agentes de negro, fortemente armados, garantiam que ninguém escapava.

- Bom trabalho Rocha, disse o Inspetor Matias virando-se para o “nosso amigo”.

E em voz bem sonora para a freguesia do café:

- Ninguém sai. Todos vão ser identificados. A juíza Garçonne traz os mandatos judiciais…

Depois bem alto para o seu séquito da Judiciária:

- Po*** : é preciso começar a moralizar esta m****. Tornar, de uma vez por todas, esta Pátria digna de Camões e de Nuno Álvares Pereira… Dos nossos Heróis e dos nossos Santos.

Muita gente estava lívida…

 


 

Publicado/editado: 25/01/2014