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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
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A larguíssima maioria dos pontos luminosos visíveis na esfera celeste, à vista desarmada, encontram-se aparentemente fixos uns em relação aos outros. Cinco destes pontos movem-se em relação a todos os restantes, tendo sido designados por “estrelas errantes”, expressão que a partir do Grego Antigo deu origem à palavra planeta. As cinco “estrelas errantes” são Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno, ou seja os planetas conhecidos desde muito antes da invenção do telescópio. Apesar de se moverem em relação às estrelas, os planetas situam-se sempre numa região muito específica da esfera celeste: uma estreita faixa situada próxima do percurso seguido pelo Sol durante o seu movimento anual aparente na esfera celeste. A região ocupada pelos planetas corresponde à interseção dos diversos planos orbitais com a esfera celeste. Apesar de não serem coplanares, os planos orbitais dos planetas não se afastam muito da coplanaridade, com inclinações inferiores a 10 graus relativamente ao plano orbital terrestre. Adicionalmente, todos os planetas orbitam o Sol no sentido em que este roda sob o seu próprio eixo.
Estes alinhamentos orbitais e o sentido de rotação dos planetas e do Sol não são obra do acaso. São resultado do processo de formação do Sistema Solar, ocorrido há cerca de 4600 milhões de anos, a partir do colapso gravitacional de uma nuvem de gás e poeiras no espaço interestelar. O colapso gravitacional não ocorre simetricamente e dele resulta uma estrutura achatada, em forma de disco, que gira em torno do seu centro, onde se encontra uma protoestrela. É através deste disco que cada vez mais material se vai juntando à estrela em formação, e é neste disco que os planetas acabam também por ser formados, naturalmente todos a orbitar no mesmo sentido, o sentido de rotação do disco, e todos quase num mesmo plano, o plano do disco. Todo este processo é, desde há algumas décadas, estudado através de observações diversas realizadas em regiões do espaço onde a formação de estrelas é uma realidade atual, sendo a presença dos discos inferida pela presença de diversos indicadores que resultam da análise dos dados observacionais obtidos.
A observação direta dos discos associados à formação estelar e planetária é muito difícil de realizar em luz visível dado que o brilho da estrela em formação é muito superior ao brilho do disco. Contudo, na nebulosa de Oríon as condições físicas “conspiram” para que os possamos observar em condições especiais: em silhueta contra o fundo de luz emitido pela nebulosa. As imagens seguintes mostram dois daqueles discos, um visto de frente e o outro visto de lado. Os discos são as formas mais escuras presentes nas imagens.
A partir de imagens reais da nebulosa de Oríon e do conhecimento existente acerca desta região do espaço e dos processos que nela decorrem, foi possível produzir um vídeo que nos permite “viajar” pela nebulosa de Oríon em cerca de 2 minutos e meio. Podem vê-lo aqui. Veja e reveja. Chamo especial atenção à aproximação a um disco circumestelar, por alturas da conclusão do primeiro minuto do vídeo.
Boa viagem!
Crédito: C.R. O'Dell/Rice University; C.R. O'Dell/Rice University;
NASA (http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/1994/24/image/c/)
Crédito: J. Bally (University of Colorado) and H. Throop (SWRI) (http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2001/13/image/b/)