Título: A Médica... (15ª Episódio) - 5ª Parte
Filipe Oliveira José V. Faria Sílvio Gama Paulo Correia Carlos Marinho José C. Santos
1ª Parte por Filipe Oliveira- Dia 1
A doutora Joana Vaz olhava com apreensão para a imagem no ecrã da máquina de ecografias.
- Está tudo bem, doutora? Perguntava o pai com um sorriso nervoso.
-Sim, sim, não se preocupe, está tudo bem. Acho apenas curioso…está tudo bem de mais. Todas as medições que fiz, comprimento do fémur, perímetro cranial, translucência da nuca,…etc, batem certo, à décima de milímetro, com o valor médio esperado. Nunca me tinha acontecido tal coisa. Fiz mais de 20 medições e aconteceu isso mesmo com todas elas… parece bruxedo…
- Bem, disse a mãe, então é um bebé mais que perfeito, não é doutora?
- Sim, podemos ver isso assim, se quisermos…É espantosa uma tal coincidência…
No final do seu longo dia de trabalho, a doutora Joana vestiu o casaco e preparou-se para sair. Olhou furtivamente para o relógio. Eram 18h00. Em ponto: o ponteiro dos segundos separava ostensivamente os dois algarismos que compõem o número 12. 18 horas, a sua hora teórica de saída…
2ª Parte por José Veiga de Faria - Dia 6
Teórica…mas hoje sentia-se perplexa e alarmada. Estava cheia de problemas pessoais e agora este sinal do além que não sabia se era para ela ou para o bebé! Pegou numa pequena chave, abriu um armário de parede e tirou um copo e uma garrafa de whisky. Sentou-se, encheu o copo e bebeu-o de um trago. O edifício psíquico estava a colapsar… Levantou o auscultador, digitou uma extensão e disse com brevidade: - Seabra podes dar aqui um salto?
Seabra era um conhecido antropólogo seu amigo que estava a fazer um trabalho no hospital.
Minutos depois a porta abriu-se e um indivíduo alto, com ar de pessoa afável e habituada a refletir, entrou apreensivo. – Então Joana o que se passa? Joana contou-lhe o ocorrido com a ânsia de quem precisa de ajuda. Seria bruxaria? perguntou.
- Sabes, tu estás a passar um período complicado da tua vida. Não estou a dar-te novidade nenhuma se te disser que em situações de grande perda podemos ser levados a imaginar que há forças exteriores ou sobrenaturais conduzem os acontecimentos: e, quiçá, depois imaginar que aplacando-as ou conquistando-as podemos induzir um curso de acontecimentos favorável. É a minha área como tu sabes. Já viste se as médias estão em centímetros?
3ª Parte Sílvio Gama - Dia 11
- Que interessa se estão em centímetros ou milímetros? – perguntou-lhe Joana, atormentada subitamente pelo rosto de Marco, o seu único filho, que perdera nove meses antes.
Marco era um brilhante finalista de engenharia de gestão industrial e contraíra uma doença grave aquando do seu passeio de finalistas à Turquia. Poucos dias após o seu regresso a Portugal, fora acometido por uma febre altíssima, acompanhada de enjoos frequentes, que o levaram a ser hospitalizado. Falecera após 4 meses em coma. A mãe nunca mais fora a mesma. Durante o período de coma do filho, dizia a quem a pudesse ouvir: “Que médica sou eu, se nem salvar o meu próprio filho posso?”
No hospital, logo após a morte do filho, instalara-se um mal entre os seus colegas, que começavam a achá-la incapaz de continuar a desempenhar as suas funções. Felizmente, aos poucos, Joana lá se foi recompondo. Ao mesmo tempo, uma sensação de precisão cirúrgica, começou a invadi-la.
4ª Parte por Paulo Correia - Dia 16
No dia seguinte, Seabra passou pelo consultório de Joana... julgava agora mais normal ter encontrado as médias esperadas... A médica agradeceu a preocupação do colega e comentou que talvez o aumento de doentes por médico tivesse contribuído para o ataque de espírito analítico.
Passaram mais alguns dias, sempre com mais doentes do que um atendimento com maior proximidade permitia, até que os papás do bebé totalmente médio voltaram...
As medições continuavam muito próximas da média, mas desta vez com pequenos desvios... Joana sorriu. Depois perguntou aos pais se queriam saber o sexo da criança. Disseram que sim, e Joana anunciou: “Têm aqui um belo rapaz... como se vai chamar?”
O pai sorriu e disse: “Marco”.
Joana tentou ignorar a informação, concentrando-se nos procedimentos técnicos e continuou: “Vamos afinar a previsão da data do parto...”
No monitor do computador surgiu a nova previsão, com as novas medições, a data prevista era 09/11/14... A médica não resistiu, as lágrimas despontaram e Joana alegou uma indisposição súbita para encerrar a consulta... o Marco tinha nascido em 14/11/90!
5ª Parte por Carlos Marinho - Dia 21
Volvidas algumas semanas, a médica Joana foi chamada de urgência. Tinha entrado uma mulher grávida nas urgências hospitalares, depois de um violento acidente de viação. Um condutor alcoolizado bateu de uma forma indómita no carro de Maria. Num ápice, Joana Vaz correu em auxílio e verificou que era a mãe de "Marco". O pai ao lado da maca olhou Joana Vaz nos olhos e em lágrimas pediu:
- Doutora salve o meu filho (Marco) e a minha mulher! São a minha vida…
Os paramédicos informaram Joana Vaz que era impossível salvar mãe e filho. Era um caso perdido. Joana Vaz lembrou-se do filho que perdera e rezou. De imediato ordenou. Vamos fazer de tudo para os salvar…
Mais de 3 horas depois abre-se a porta da sala de operações, com Joana Vaz na frente com um lindo rapaz nos braços. Era o pequeno Marco, que apesar de nascer prematuro, estava bem, com Joana a salvá-lo de uma morte certa.
Joana Vaz referiu ao pai:
- Parabéns, tem aqui um lindo filho. A sua mulher também vai ficar bem. Entregou o bebé à enfermeira e encaminhou-se para o seu gabinete chorando copiosamente...
6ª Parte por José Carlos Santos - Dia 26
Ao fim de poucos dias, já todos se tinham apercebido da transformação que tivera lugar na Joana. Era como se ela tivesse tido sobre si durante muito tempo um manto de tristeza e este tivesse sido removido. Toda ela agora irradiava tranquilidade e confiança.
O director dos serviços clínicos, o doutor Medina, desfazia-se agora em elogios à Joana. Medina era um profissional extremamente competente, mas a sua tendência para dizer sempre o que pensava provocava bastantes atritos com os outros médicos. E ele tinha sido um dos colegas da Joana a emitir a opinião de que ela não estava mais capaz de exercer o seu cargo, tendo mesmo sido o único a dizer-lhe isso directamente. Mas agora tudo mudara, depois de ter visto o que Joana fizera com Marco e a mãe, pois, como dizia Medina, «o que a Joana Vaz fez parece ter sido mais feitiçaria do que medicina!»
E não era só isso. Os pais do Marco quiseram exprimir a sua gratidão convidando a Joana para ser madrinha dele, deixando claro que queriam que isso fosse o início de uma longa ligação. Naturalmente, a Joana aceitou. Para ela, foi um regresso à vida.
FIM