Eduarda Maio, jornalista da RTP/Antena 1 é a nossa convidada do mês de outubro. Os limites desta conversa vão da infância até ao plano de vida atual, passando sem incógnitas pela grande paixão que é fazer rádio. Uma entrevista sem intervalos, com o horário nobre bem definido onde o programa Sociedade Civil é o convidado especial, não faltando uma abordagem pela ciência alma mater de todas ciências. Esta é a geometria desta entrevista que vai até si com estas soluções:
Nasceu em Moçambique. O que recorda de melhor da sua infância?
Vim de Moçambique com apenas 1 ano de idade. Não guardo por isso qualquer recordação da minha terra de nascimento, a não ser algumas fotografias tiradas pelos meus pais. As minhas memórias de infância são difusas porque o facto de ser filha de um militar me fez mudar de localidade e de amigos com alguma frequência.
Como era a (sua) escola quando tinha 10 anos de idade?
A minha escola primária ainda hoje existe. Chama-se Escola dos Sininhos e fica na Póvoa de Varzim. Gostava do seu recreio amplo e da minha sala de aulas no rés-do-chão. O que recordo com mais carinho é a minha professora que me levou da 1ª à 4ª classe, de uma grande dedicação aos alunos, carinhosa e disciplinadora ao mesmo tempo, na medida certa.
Gostava de matemática?
Gostava muito de matemática e ainda hoje me recordo de praticamente tudo o que aprendi até ao 9º ano de escolaridade, até seguir para a área de humanísticas.
A Matemática alguma vez foi notícia?
A matemática é muitas vezes notícia e cada vez mais, desde que começou a ser tratada, em termos de politica de educação, como uma dificuldade dos alunos nacionais, e se começou a trabalhar no sentido de encontrar novos métodos para fazer dela uma disciplina simpática e de grande importância para a nossa vida quotidiana.
O jornalismo teve várias frequências na sua vida...
Teve várias etapas, várias “casas”, muitos desafios diferentes, mas foi um continuo em termos de amadurecimento, conquista de experiência e satisfação, por ter o privilégio de ter uma profissão de que gosto.
A Antena 1 é...
Uma rádio nacional, com responsabilidades de serviço público, e a grande dificuldade de reunir num único projeto todas as sensibilidades, gostos e necessidades de uma sociedade e de um auditório cada vez mais heterogéneo.
Uma década na TSF. Como foi a experiência?
Excelente. Foi o meu período de maior crescimento e acumulação de experiência como jornalista. Uma rádio de afetos, de grande liberdade de expressão, e de valentes discussões de trabalho que nos permitiam analisar de forma profunda, questionar o nosso próprio trabalho e o nosso papel como jornalistas.
O programa "Juiz Decide…" que apresentou na SIC está muito atual. O Tribunal Constitucional tem decidido…
Era um programa de causas cíveis, muito longe do que é um Tribunal Constitucional, que levava aos espectadores casos concretos do dia-a-dia em que a lei intervém, permitindo às pessoas perceber o que esperar dela.
Sociedade Civil na RTP é um programa generalista que se preocupa com as pessoas. Que balanço pode fazer deste programa?
É um programa de cidadania, que pretende dar voz aos cidadãos, aos seus problemas às suas causas, aos seus interesses e necessidades, para lá daquilo que é a agenda diária dos média. Tenho-o encarado com essa missão: a de conquistar cada vez mais portugueses para a cidadania e para a importância de participarem diretamente na melhoria do bem comum. Todos podemos fazer alguma coisa mais.
Rádio ou Televisão?
Rádio. Sem dúvida e definitivamente. A minha grande paixão.
O poeta e dramaturgo William Shakespeare deixou de gostar de matemática no dia em percebeu que “X” (vezes traicional) deixou de ser o sinal da multiplicação para passar a ser uma incógnita. O que acha?
Foi uma dúvida que nunca se levantou no meu espírito. Conheci-o primeiro como sinal da multiplicação e depois como incógnita e nunca me questionei como o Shakespeare sobre tal duplicidade. Não sou poeta, como ele, mas creio que é na multiplicidade dos significados de um sinal que reside a nossa dimensão humana de pensar. Portanto… sinal + ?
O matemático Alfred Rényi disse que "quando estou infeliz trabalho matemática para ficar feliz. Quando estou feliz, trabalho matemática para me manter feliz". O que faz a Eduarda para ser feliz?
Rádio. Faço rádio. Tal como o Rényi quando estou infeliz fazer rádio ajuda-me a ultrapassar a tristeza e quando estou feliz, fazer rádio faz-me ainda mais feliz. Seria bom que cada um de nós conseguisse descobrir esta sua “ilha” da qual se parte e à qual se regressa como porto seguro.
Por Carlos Marinho