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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
Daniel F. M. Folha - Diretor Executivo do Planetário do Porto - Centro CIência Viva, astrónomo do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Professor Auxiliar Convidado do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N) e elemento do CIENCEDUC - Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N) |
Quase desconhecido do habitante citadino, o céu noturno visível de um local escuro, sem a poluição luminosa típica das cidades, mostra-nos uma miríade incontável de estrelas e uma banda esbranquiçada, salpicada de manchas escuras, que atravessa o céu de horizonte a horizonte. É uma visão espetacular. Afinal o que é a tal banda esbranquiçada? É a Via Láctea, a nossa galáxia. Mas esta é uma afirmação pouco rigorosa! Afinal, praticamente tudo aquilo que vemos quando olhamos para o céu noturno à vista desarmada é parte integrante da nossa galáxia. Todas as estrelas visíveis a olho nu estão dentro da Galáxia e nós, no Sistema Solar, também. A tal banda esbranquiçada é uma parte da Via Láctea. É o disco galáctico, uma região com maior densidade de estrelas, gases e poeiras que formam uma estrutura achatada em forma de disco, onde se situam braços em espiral.
Imaginemos uma viagem virtual... Viramos as costas ao centro da Via Láctea, a região mais densa da tal banda que cruza o céu de lés a lés e em torno do qual o Sol e as outras estrelas orbitam, e aceleramos. A certa altura saímos da galáxia. Quando tivermos percorrido uma distância correspondente a algumas vezes o diâmetro da galáxia voltamo-nos para o seu centro. O que vemos? Vemos uma mancha comprida e estreita que enche o nosso campo de visão, qual frisbee cósmico, numa imagem muito parecida à que se apresenta de seguida.
NGC 4565. Crédito: Panther Observatory
Esta é a galáxia NGC 4565, uma galáxia em espiral, como a nossa Via Láctea, situada a cerca de 45 milhões de anos-luz de distância, que vemos de perfil dada a posição relativa que ocupamos no cosmos. Haverá algum ser naquela galáxia a retribuir o olhar? Quase de certeza que nunca o saberemos!! Mas uma coisa é certa, esse ser hipotético tem uma visão da nossa galáxia muito diferente da que nós temos da dele. Ele vê a Via Láctea de uma direção quase perpendicular ao plano do nosso disco galáctico, podendo apreciar a nossa estrutura em espiral na sua plenitude!