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Todos os meses, no
dia 1, Miguel Abreu, Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática,
escreve as suas "(Di)visões" sobre o mundo que o rodeia. Estes artigos
poderão ter uma componente matemática, mas serão essencialmente uma
opinião sobre os mais variados aspectos da sociedade: ciência, política,
desporto, ensino entre outros assuntos.
Miguel Abreu - Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática
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A nova organização curricular que o Ministério da Educação pretende implementar no Ensino Básico, já no próximo ano lectivo, irá afectar o Estudo Acompanhado. Área curricular não disciplinar, o Estudo Acompanhado tem sido principalmente usado para dar aos alunos mais tempo semanal de contacto com as disciplinas nucleares, havendo quem o tenha caracterizado como “a unidade de cuidados intensivos do Português e da Matemática”. Na sequência de dúvidas, que ainda persistem, sobre o que vai de facto suceder ao Estudo Acompanhado, a ministra da Educação, Isabel Alçada, afirmou que o Estudo Acompanhado vai ser reservado para os alunos que dele precisam de facto, sendo os restantes dispensados.
Mesmo assumindo que o número de horas lectivas de Português e de Matemática é adequado ao que é exigido pelos novos programas do Ensino Básico, todos os alunos precisam e devem ter acesso a um bom Estudo Acompanhado. Para uns ele poderá de facto servir como “unidade de cuidados intensivos”, enquanto para outros servirá simplesmente para consolidar e praticar o que está a ser ensinado nas aulas. Há também aqueles que, sendo já bons alunos, têm condições de usar o Estudo Acompanhado para ir mais longe na sua aprendizagem. Um bom sistema educativo tem que conseguir potenciar ao máximo as capacidades de todos os seus educandos, não podendo “dispensar” ninguém, por pior ou melhor que seja.
A este respeito, recomendo a leitura do artigo “Teaching Math to the Talented”, recentemente publicado na revista Education Next (http://educationnext.org/teaching-math-to-the-talented/). Os autores, entre eles Eric A. Hanushek que esteve recentemente em Portugal, usam resultados do PISA para comparar o desempenho dos EUA com o dos outros países da OCDE no que respeita à produção de alunos com bom desempenho em Matemática. O resultado é preocupante para os EUA e muito preocupante para Portugal. Cito directamente do artigo (tradução minha):
“Os únicos países da OCDE que produzem uma percentagem de alunos avançados em Matemática inferior à dos EUA são Portugal, a Grécia, a Turquia e o México.”
Assim como não nos podemos dar ao luxo de deixar para trás os alunos mais fracos, também não podemos deixar de empurrar para a frente os alunos com mais talento. Não é fácil conseguir alcançar estes dois objectivos. Um bom Estudo Acompanhado, diferenciado mas para todos, é um caminho.