Linhas e Pontos por Carlos Marinho




 

Este espaço vai ser dedicado a aspectos simples da vida em contexto real, em que a matemática pode entrar como elemento surpresa. Em síntese, estas "linhas" terão como base "pontos" comuns da nossa vida, em que a objectividade da Matemática pode fazer compreender alguns "problemas" que vão surgindo em contexto real. Como afirmou Pitágoras, "Todas as coisas são números". Nesta rubrica tudo cabe... até a matemática. 

   

Carlos Marinho -  Coordenador do Clube da Matemática da Sociedade Portuguesa de Matemática



Título: Astérix e a Poção Matemática


No dia 5 de Junho de 2011 às 20 horas todas as televisões, rádios e jornais anunciaram o vencedor da noite eleitoral sem que a contagem de votos fosse oficial. Mais ou menos assim, “Boa noite, o próximo primeiro ministro de Portugal é…”


Isto só é possível por causa de uma ciência – a Matemática. A Matemática foi a “rainha” da noite eleitoral, em particular o ramo da Estatística. Numa definição resumida a estatística utiliza-se através das teorias probabilísticas para explicar a frequência de fenómenos e para possibilitar a previsão desses fenómenos no futuro. Por vezes é difícil definir estatística e, não será difícil não concordar com Gustavo de Castro quando diz “… a Estatística Matemática é jovem e em crescimento e, assim ninguém pode dizer em poucas palavras o que é e, talvez ninguém saiba…”.


Numa nota histórica, a evolução da Estatística segundo o matemático Bento Jesus Caraça tem quatro fases no tempo, a saber: 1) o estudo de assuntos de Estado; 2) já se analisavam grupos de observações numéricas respeitantes à saúde pública, nascimento, mortes, comércio nacional e internacional…; 3) é associado ao desenvolvimento do cálculo das probabilidades e suas aplicações no século XVI e 4) a fase actual, iniciada no século XIX com o desenvolvimento das duas anteriores, onde a estatística surge como uma poderosa alfaia científica de aplicação corrente nos mais diversos saberes.


Voltando às eleições e, ao espectáculo mediático de apresentação de resultados da noite eleitoral, todos os comentários são baseados nos resultados matemáticos apresentados. Toda esta história me lembra um livro de banda desenhada “Astérix e Cleópatra” de René Goscinny, em que num determinado momento em que Cleópatra chama o melhor arquitecto do reino e lhe ordena:

- Tens três meses para te resgatares. Tens de construir um palácio magnífico para Júlio César, em Alexandria!

- Três meses? Questionou-se o pobre arquitecto.

- Se o conseguires cobrir-te-ei de ouro. Senão, lanço-te aos crocodilos!


O arquitecto pensou para ele, três meses! Para levar a cabo esta tarefa seria preciso que eu tivesse poderes sobrenaturais ou que fosse ajudado por um amigo…Panoramix.

Este episódio faz-me lembrar esta tentativa de adivinhar os resultados eleitorais que parece uma tarefa quase impossível. Mas, eis que surge, a matemática a fazer o papel de Panoramix e um extenso conjunto de profissionais (seus amigos), que baseados em “fórmulas mágicas matemáticas” adivinham o futuro.


Por outro lado, convém referir que o erro está sempre perto de quem investiga. A matemática nada tem a ver com estes erros, dito doutra maneira, a matemática não erra. É mais ou menos como o chocolate. Temos uma expressão que dizemos: “O chocolate engorda”. Nada mais falso, o chocolate não engorda, quem engordam são as pessoas, porque comem de mais.


Estão todos a perguntar quem foi, afinal o vencedor da noite. Foi sem dúvida mais uma vez a…matemática.



Publicado/editado: 10/06/2011