Bárbara Wong, prestigiada jornalista do jornal Público, publicou, recentemente, um livro que nos mostra, nas dezenas de casos que convoca, the dark side of the moon. Ou sobretudo este lado escuro da profissão.
A obra organiza-se em torno de 10 mitos sobre os professores (como se inscreve no subtítulo):
1. Os professores não querem ensinar
2. Os professores não querem ser avaliados
3. Os professores estão sempre de férias
4. Professores não têm autoridade
5. Qualquer um vai para professor
6. Os professores não querem saber dos alunos
7. Os professores faltam quando querem
8. Os professores não sabem educar
9. Os professores têm uma grande vida
10. Os professores não sabem nada
Alguns dos capítulos relatam crenças, visões, posições que são claramente mistificações e mitificações operadas pelo senso comum, não tendo, em termos gerais, qualquer sustentação. Mas há outros que enunciam histórias tristes da profissão. Há, de facto, como algumas histórias comprovam, alguns professores que não sabem e não querem ensinar. Alguns professores que não gostam dos alunos. Alguns professores que erraram a profissão.
Não há dúvida que os casos relatados são reais, como assegura a autora. Mas não representam o universo da profissão. Nem assinalam o sentido estratégico do desenvolvimento. Ao sublinhar que a minha sala de aula é uma trincheira, a obra opta por situar os professores na defensiva fazendo crer que a classe (toda ela) se encontra entrincheirada na defesa de interesses – embora em muitas passagens a autora também denuncie o absurdo do senso comum mediatizado.
Sabendo que há aulas-trincheira, é preciso afirmar que muitas outras o não são. São espaços de ensino, de aprendizagem, de respeito, de convivência. E são estes espaços que dignificam e afirmam uma profissão.
Por isso, pelo meu lado, prefiro sublinhar as aulas que não são uma trincheira. Porque só nessas é que as promessas educativas se poderão cumprir.