O livro de matemática - Uma vida sem problemas de José Paulo Viana

O livro de matemática "Uma vida sem problemas" de José Paulo Viana




O professor de matemática José Paulo Viana lançou recentemente o seu novo livro de matemática denominado "Uma vida sem problemas". O clube spm apresenta o livro, o seu autor e uma quantidade de problemas que lhe vai agradar. Quer uma vida sem problemas, então comece por ler este livro.


Como surgiu a “hipótese” de escrever este livro?
Gosto muito da matemática e gosto também muito de partilhar com as outras pessoas o prazer que ela me dá. Tudo começou com o contato de uma editora que teve conhecimento do meu trabalho. Propuseram-me passar a escrito parte das conferências de divulgação que vou fazendo por aí. O processo ainda chegou a estar parado mas, felizmente, a editora foi insistindo e a certa altura arrancou definitivamente. O conteúdo do livro tem três origens diferentes. A parte principal é constituída por materiais recolhidos para essas conferências, em que os objetivos principais são mostrar como a matemática aparece em todo o lado, como é utilizada em contextos inesperados, como vale a pena estar atento para a usar de forma significativa e, sobretudo, como pode ser divertida. Para além disto, o livro inclui alguns artigos saídos na revista “Educação e Matemática” da APM, e um conjunto de problemas propostos aos leitores do jornal Público, na secção dominical Desafios.

Uma vida sem problemas por “Definição” é…
Fora do livro, uma vida sem problemas é aquilo que, muitas vezes, pensamos que nos dava jeito ter…Quanto ao livro “Uma vida sem problemas”, vejamos o que se pretendeu que ele fosse, enumerando os seus objetivos principais.
- Mostrar como a matemática permite perceber o que se passa à nossa volta, encontrando os modelos matemáticos que descrevem fenómenos naturais ou sociais. Isto permite, a seguir, agir sobre essas situações, controlando-as, alterando-as e antecipando eventuais problemas.
- Estamos à espera de encontrar a matemática associada às ciências mas talvez seja uma surpresa vê-la em estudos inesperados: Porque cai sempre a torrada com a manteiga para baixo? (Lei de Murphy). O que é um corpo matematicamente perfeito? (é, ou era…, o da Jessica Alba). Quantos cidadãos do Alabama irão para o inferno se não se arrependerem? (sim, sim, este estudo existe). Como é que a Matemática fez com que a taxa de divórcios na China diminuísse significativamente?
- Saber interpretar a informação para além do que lá está efetivamente expresso. Por exemplo, descobrir o analfabetismo e o atraso económico nas pirâmides etárias de Portugal ou ver a bondade dos professores nos gráficos dos exames nacionais.
- Divulgar curiosidades matemáticas. É curioso o fascínio que muita gente tem por certos números: as capicuas, os primos, as regularidades. Por exemplo, a raiz quadrada de 308642 é 555,55557777777733333335111111022222…
- Finalmente, pôr-nos a pensar e a resolver problemas com prazer: os “impossíveis” (mas serão?), os “para toda a gente” (e são mesmo), os auto referentes, os surpreendentes, …

Que soluções podemos encontrar…
Ah, estão lá as soluções de todos os problemas propostos! Mas só no fim, para que qualquer pessoa possa ter a possibilidade de confirmar que o que fez e o caminho seguido foram corretos e levaram a “bom porto”. Portanto, á pergunta Que soluções podemos encontrar neste livro?, a resposta só pode ser: As soluções terão de ser encontradas na cabeça de quem o lê. Com efeito, o que mais importa e o que dá mais prazer é justamente o desafio que um problema nos lança, a procura das estratégias adequadas e, por fim, a descoberta da solução. Há uns anos fui à Cinemateca Portuguesa ver um filme divertidíssimo que, infelizmente, não passou no circuito comercial português. Chama-se Pequeno Dicionário Amoroso e foi realizado por Sandra Wernek. A certa altura, embora num contexto diferente, uma personagem diz uma frase que resume com perfeição o que muitos de nós sentimos perante a matemática, os problemas e a vida: “Procurar é muito divertido, só por isso vale a pena”.

Fazer este livro foi um "problema"...
Problema propriamente dito, não foi. Teve fases mais complicadas, dada a quantidade de outros afazeres que fazem parte da vida de um professor. O mais difícil passou-se mesmo a nível mental: decidir “cá dentro” que isto tinha de ir para a frente. Contudo, partir de certa altura, a insistência da editora aliada ao prazer que é falar (ou melhor, escrever…) sobre o que se gosta levou a que essas dificuldades desaparecessem.

Qual é a probabilidade de termos uma vida sem problemas?
Bem, a probabilidade de eles não aparecerem é nula, claro. Mas, de cada vez que um deles surgir, há vários aspetos que podem ajudar e muito: não nos deixarmos subjugar por ele, termos uma atitude positiva na vida e, por fim, sabermos pensar. Ora, para melhor se raciocinar e pensar, não há nada que ultrapasse o estarmos habituados a resolver problemas de Matemática. E quanto mais treino tivermos na resolução de problemas, mais facilmente os antecipamos e, deste modo, eles nem sequer se tornam em problemas. Para além disso, um problema resolvido, deixa de ser problema. Conclusão: para uma vida sem problemas a solução é resolvê-los!

Qual é o público alvo deste seu livro?
Toda a gente que não tenha desistido de pensar. Para ler o livro, espero eu, não é preciso saber Matemática para além da elementar. O que se tentou valorizar foi a capacidade de analisar e de raciocinar, que não depende diretamente do nível de conhecimentos matemáticos.

Está em “Equação” a edição de outro livro?
Penso que sim. Há ainda tantas coisas divertidas e curiosas na Matemática que merecem ser partilhadas…


Matemática sem problemas é…
Matemática sem problemas… não é Matemática. O grande motor da Matemática foi sempre a resolução de problema. Há vários casos paradigmáticos. O problema das pontes de Konigsberg fez nascer a Teoria dos grafos, o problema do Cavaleiro de Méré deu origem às Probabilidades. Além disso, a atitude habitual de um matemático, depois de resolver um problema, é colocar uma extensão desse problema que permita ir mais longe ou mais profundamente. E assim, de problema em problema, vai avançando a Matemática.

Numa frase “Matemática” é…
… a ciência das regularidades e padrões. Claro que todas as definições numa só frase serão redutoras, mas esta é a que mais me agrada.

José Paulo Viana é...
Também numa só frase? … um entusiasta da descoberta. Esta definição é bem mais redutora que a anterior. Porque o prazer da descoberta aparece associado à Matemática, claro, mas também ao cinema, aos livros, à música, à banda desenhada, às viagens. São muitos os mundos a explorar. Depois, há o prazer de partilhar com os outros aquilo que de mais significativo encontrámos (e receber deles o prazer das descobertas que fizeram). E, associado a tudo isto, o maior prazer: o dos amigos.



Publicado/editado: 01/06/2012