Chegou o outono.
O outono é a estação do ano que sucede ao verão e antecede o inverno. É caracterizado por queda na temperatura, e pelo aparecimento da cor amarela das folhas das árvores.
O outono chega este sábado ao hemisfério norte, pelas 15.49 horas, onde vai ficar por quase 90 dias, fazendo-se acompanhar, na primeira semana da chegada a Portugal, por alguma instabilidade meteorológica.
Aqui fica um poema do Nuno Guimarães de novembro de 2011 "números de outono" para recordar e justificar a data.
Números de outono
O Outono chegou preguiçosamente à cidade, com chuva de números miudinhos, quase
imperceptíveis, que molhavam as folhas virgens de papel, estendidas na minha varanda.
Um perfume numérico invadiu suavemente todas as ruas há muito desejosas de novos cheiros. As
paredes dos edifícios entretinham-se a contar desordenadamente os algarismos. Ao sabor de cada
gota aleatória deslizante, tentavam adivinhar sequências matemáticas que lhes colocassem sorrisos
de felicidade às janelas. Sequências não monótonas, limitadas superiormente por telhados
algébricos vermelhos e inferiormente por graníticos passeios que se transformam em rios onde os
números, em brincadeiras irreverentes, se organizam em progressões aritméticas. As operações
simples saíram dos cadernos da primária e pasmadas olhavam para aquela desorganização numérica
sem perceber se alguma regra prevalecera na determinação da ordem. Repórteres dos jornais
fotografavam. As televisões interrompiam emissões e em directo, davam conta do acontecimento
matemático, num Outono até ali seco de eventos que justificassem intervenções não programadas.
No céu ainda carregado de cinzento, uma plateia de figuras esfumadas riam, trovejando com pigarro
atravessado nas gargantas. Os contornos eram lineares e brilhantes, relâmpagos desenhando
Arquimedes, Bernoulli, Copérnico, Descartes, Einstein, Fibonacci, Galileo, Hook, Jacobi, Kepler,
Lagrange, Newton, Pitágoras, Riemann, Thales, Weber, Zenón… sequência alfabéticas,
interrompidas aqui e ali por ausência de nomes entretidos a sonhar.
Eu, ando por ali, registando loucuras. Conto, descubro, equaciono, seco as folhas de papel
desvirginadas pelos números miudinhos que choveram numa cadência poética dum Outono que
preguiçosamente chegou à cidade. Neles descodifico este texto que não sendo perfeito é por certo
uma sequência limitada e finita de palavras criptograficamente deixadas pelos poetas que
matematicamente, dos céus, me contemplam…