Hoje, dia 22, começou o outono em Portugal pelas 15h49

Números de outono

Hoje, dia 22, começou o outono em Portugal pelas 15h49




Chegou o outono. 


outono é a estação do ano que sucede ao verão e antecede o inverno. É caracterizado por queda na temperatura, e pelo aparecimento da cor amarela das folhas das árvores. 


O outono chega este sábado ao hemisfério norte, pelas 15.49 horas, onde vai ficar por quase 90 dias, fazendo-se acompanhar, na primeira semana da chegada a Portugal, por alguma instabilidade meteorológica.


Aqui fica um poema do Nuno Guimarães de novembro de 2011 "números de outono" para recordar e justificar a data.



 

Números de outono 


O Outono chegou preguiçosamente à cidade, com chuva de números miudinhos, quase

 imperceptíveis, que molhavam as folhas virgens de papel, estendidas na minha varanda.

Um perfume numérico invadiu suavemente todas as ruas há muito desejosas de novos cheiros. As 

paredes dos edifícios entretinham-se a contar desordenadamente os algarismos. Ao sabor de cada 

gota aleatória deslizante, tentavam adivinhar sequências matemáticas que lhes colocassem sorrisos 

de felicidade às janelas. Sequências não monótonas, limitadas superiormente por telhados 

algébricos vermelhos e inferiormente por graníticos passeios que se transformam em rios onde os 

números, em brincadeiras irreverentes, se organizam em progressões aritméticas. As operações 

simples saíram dos cadernos da primária e pasmadas olhavam para aquela desorganização numérica 

sem perceber se alguma regra prevalecera na determinação da ordem. Repórteres dos jornais

 fotografavam. As televisões interrompiam emissões e em directo, davam conta do acontecimento 

matemático, num Outono até ali seco de eventos que justificassem intervenções não programadas. 

No céu ainda carregado de cinzento, uma plateia de figuras esfumadas riam, trovejando com pigarro 

atravessado nas gargantas. Os contornos eram lineares e brilhantes, relâmpagos desenhando 

Arquimedes, Bernoulli, Copérnico, Descartes, Einstein, Fibonacci, Galileo, Hook, Jacobi, Kepler, 

Lagrange, Newton, Pitágoras, Riemann, Thales, Weber, Zenón… sequência alfabéticas,

 interrompidas aqui e ali por ausência de nomes entretidos a sonhar.

Eu, ando por ali, registando loucuras. Conto, descubro, equaciono, seco as folhas de papel 

desvirginadas pelos números miudinhos que choveram numa cadência poética dum Outono que 

preguiçosamente chegou à cidade. Neles descodifico este texto que não sendo perfeito é por certo

 uma sequência limitada e finita de palavras criptograficamente deixadas pelos poetas que

 matematicamente, dos céus, me contemplam…



Ver original no clube spm de novembro de 2011

Publicado/editado: 22/09/2012