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Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.
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Este mês regressamos à constelação de Oríon. As estrelas Alnilam (épsilon Orionis), Alnitak (zeta Orionis) e Mintaka (delta Orionis) marcam o cinto de Oríon, o caçador. A sul deste conjunto de estrelas encontramos a estrela iota Orionis e logo a norte desta situa-se a uma região nebulosa, visível à vista desarmada a partir de locais sem poluição luminosa, ou utilizando binóculos ou pequenos telescópios a partir das cidades (pode localizar-se na constelação de Oríon clicando aqui).
A visibilidade desta nebulosidade deve-se à presença de grandes quantidades de gás e poeiras no meio interestelar, que brilham ao serem iluminados por um conjunto de estrelas muito jovens. Designada por Nebulosa de Oríon, esta é uma região de formação de estrelas relativamente próxima do Sistema Solar (a apenas cerca de 1500 anos-luz de distância). A imagem seguinte mostra a região central da nebulosa de Oríon captada em radiação infravermelha e permite identificar um milhar de estrelas jovens, formadas há cerca de um milhão de anos. Este conjunto particular de estrelas é designado por enxame aberto do Trapézio.
Crédito: ESO/M.McCaughrean et al. (AIP) (www.eso.org/public/usa/news/eso0104/)
A mesma região do céu observada em luz visível, que apresento na imagem seguinte, tem um aspeto bem diferente. O gás e as poeiras tornam a nebulosa muito opaca à luz visível, impedindo a visualização das estrelas que se encontram bem no seu interior.
Crédito: NASA, C.R. O’Dell e S.K. Wong (Rice University) (hubblesite.org/newscenter/archive/releases/1995/45/)
Na origem da denominação “Trapézio” está a forma geométrica definida pelos quatro pontos brilhantes próximos do centro da imagem, identificados como estrelas já no Séc. XVII. De facto, cada uma das quatro “estrelas” do trapézio é, na realidade, um sistema de duas ou mais estrelas, sendo que o número exato de estrelas em cada um dos quatro sistemas é ainda tema de investigação.