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A Matemática debate-se com problemas com números e a Psicologia enfrenta inúmeros problemas, igualmente complexos. A Psicologia estuda o comportamento e os processos mentais. Nesta rubrica vamos estudar alguns comportamentos, não individuais, mas colectivos através da realidade dos números. Victor Santos - Psicólogo
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Num mês em que as chuvas e as intempéries são notícia, reforçando o cinzentismo dos céus nas paisagens que nos envolve, vou focar-me em 2 acontecimentos antagónicos nos contextos.
A emigração do Fernando Tordo para Recife, Brasil, que aos 65 anos foi abraçar um novo projeto/desafio profissional porque o seu país, onde foi cantor de referência durante 50 anos, não tem mais nada para lhe oferecer que duzentos e tal euros de pensão. É um sinal representativo e significativo do ponto a que Portugal chegou, onde alguns se preparam para festejar um novo “milagre económico” e uma nova independência igual à de 1640. Este país não é para os novos, não é para os velhos, não é para a ciência, não é para a cultura, não é para o desenvolvimento, não é para os portugueses. Será para quem? Há um número imenso de portugueses que foram referências nos seus tempos em diferentes áreas do desporto e da cultura, como o futebol, o atletismo, o hóquei em patins, o cinema, o teatro, a música, a literatura, o jornalismo e, hoje com mais de 50 anos, vivem com pensões de sobrevivência de duzentos e poucos euros e a recorrer, envergonhados, a todo o tipo de apoios sociais. Foram referências nacionais, foram brilhantes e tentaram dar o máximo por Portugal, para que o seu país fosse maior e melhor, não emergiram de qualquer reality show ou big brother. E o seu país virou-lhes as costas. Já sentíamos estar a perder o futuro, já tínhamos perdido a esperança. Agora estamos a perder o presente, sem passado, as nossas referências, a nossa identidade. Há outros/alguns que estão prontos para a festa. Talvez porque Portugal passou a ser o sexto país mais pobre da Europa, o terceiro mais pobre da União Europeia.
Temos de nos reencontrar “para com bandarilhas de esperança, afugentamos a fera, estamos na Praça da Primavera…nós vamos pegar o mundo pelos cornos da desgraça e fazermos da tristeza, graça.” ( A tourada de Fernando Tordo).
No Meco morreram 6 jovens universitários. Durante mais de 30 dias vimos silêncios ensurdecedores, seguidos de grandes ruídos, nem sempre percetíveis e audíveis, mas sempre com distorção. Não é contexto para se analisar o que está em “segredo” de justiça, mas quero relevar alguns pontos:
- os pais e mães “coragem” dos jovens que morreram tiveram um papel fundamental para não se esquecer e descobrir o que realmente aconteceu;
- as praxes académicas em Portugal sempre tiveram uma grande visibilidade pública, aceitação e aprovação sociais;
- as universidades foram, são e serão sempre espaços de excelência do saber. Há muitas situações de praxe que são facilmente comparadas a obscurantismo;
E colocar uma interrogação: percebemos haver rituais de passagem facilmente identificáveis com seitas e sociedades secretas. Não são perturbadores aqueles relatórios sobre perfis, comportamentos e valores dos seus membros? Onde é arquivada aquela informação e por quem? Quem tem acesso a ela? Está ali mais um imenso big brother sobre os nossos jovens, os nossos filhos. E isto também deveria ser investigado por quem de direito e analisado em termos de notícia. Para não termos medo de nós próprios amanhã.