Linhas e Pontos por Carlos Marinho

Eixos de Opinião março de 2014



 

Este espaço vai ser dedicado a aspectos simples da vida em contexto real, em que a matemática pode entrar como elemento surpresa. Em síntese, estas "linhas" terão como base "pontos" comuns da nossa vida, em que a objectividade da Matemática pode fazer compreender alguns "problemas" que vão surgindo em contexto real. Como afirmou Pitágoras, "Todas as coisas são números". Nesta rubrica tudo cabe... até a matemática.       

   

Carlos Marinho -  Professor de Matemática         



   

Artigo de março de 2014          

 
Título: Oscars 2014 e os Quaterniões...

A 86ª edição dos Academy Awards (Oscars 2014) foi um evento realizado no Teatro Dolby, em Hollywood, na Califórnia a 2 de março que premeia os melhores do cinema onde o argumento principal é o filme. A apresentação esteve a cargo da comediante Ellen DeGeneres que já havia sido anfitriã na cerimónia de 2007. Mais de 6000 pessoas trabalham diariamente nesta indústria no mundo. Mas perguntam agora? O que é que a matemática tem a ver com o cinema? Tem tudo a ver. Os números envolvidos em toda esta indústria seria suficiente para justificar a matemática neste artigo. Mas não vamos por aí.

Existem números denominados por “quaterniões” que são responsáveis pela evolução meteórica do cinema. Na sua origem está o matemático irlandês William Rowan Hamilton (1805-1865). A 16 de outubro de 1843, enquanto caminhava com a sua mulher entre o "Royal Canal" de Dublin até à "Brougham Bridge", após um momento de inspiração (embora com muitos anos a pensar no assunto e troca de informações com outros matemáticos da época), eis que se fez luz. Hamilton concluiu que a propriedade comutativa da multiplicação não é necessária para uma álgebra consistente dos quaterniões. Esta sua decisão foi fundamental para romper em definitivo com uma ideia errada que perdurou durante séculos. O que este fabuloso matemático descobriu revolucionou a matemática e, em particular a indústria do cinema. O domínio da aplicação dos quaterniões na computação gráfica expandiu-se para a animação em 3D (rotações das imagens) provocando uma indómita e espectacular evolução da indústria cinematográfica e nos jogos de computador. Refira-se que a Walt Disney Pictures associada aos estúdios da Pixar produziram os primeiros filmes de grande êxito como Toy Story (1995), a Bug´s Life (1998), Toy Story 2 (1999), Monsters Inc. (2001), Finding Nemo (2003) entre outros, usando os quaterniões. O jogo Tomb Raider com a personagem Lara Croft é igualmente animada com quaterniões. 

Em 1835 foi-lhe atribuído o título de Sir. Dois séculos mais tarde, o governo irlandês dedicou a Hamilton no ano de 2005 o prémio "Hamilton Year 2005”, celebrando o bicentenário do seu nascimento. Uma espécie de Oscar, diga-se merecido.

Os matemáticos Douglas M. Campbell e John C. Higgins referem que “a matemática está implementada ao nível do software ou está por detrás da concepção do instrumento, ou ainda das ideias que levaram ao desenvolvimento das tecnologias. Não é pois visível a olho nu”. Continuam dizendo que “os matemáticos adoram a matemática pela sua beleza e ordem. A sociedade tolera a matemática por ser tão útil”.

Quem diria? A matemática revolucionou o cinema. Quando estiver a ver o Brad Pit, Tom Cruise, Júlia Roberts, Cameron Diaz ou o filme animado Gru – O Mal disposto (...) lembre-se que aquelas filmagens de grande perfeição se devem à matemática dos quaterniões. 

O “Oscar” vai para a...matemática (dos quaterniões).


 
Publicado/editado: 09/03/2014