Razões & Proporções por Vitor Santos

Eixos de Opinião abril de 2014



A Matemática debate-se com problemas com números e a Psicologia enfrenta inúmeros problemas,  igualmente complexos. A Psicologia estuda o comportamento e os processos mentais. Nesta rubrica vamos estudar alguns comportamentos, não individuais, mas colectivos através da realidade dos números.                  

 Victor Santos - Psicólogo      


Razões & Proporções por Victor Santos

Artigo de abril de 2014   

Clube de Matemática SPM

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Título: UM  “MIRÓ (ZINHO)” PORTUGUÊS…

Chegou a Primavera e é na tela da vida que quero dar algumas pinceladas na realidade “mono” cromática que nos envolve. O Fisco enviou cerca de nove milhões e duzentas mil mensagens a contribuintes em dívida, no ano de 2013. Somos um país de “caloteiros” porque cada português teve 2 situações de incumprimento, em média, no ano que passou. Destes processos resultaram 2 milhões de penhoras, sendo 900 mil sobre veículos e mais de 530 mil sobre salários. O secretário de Estado Paulo Núncio afirmou a “preocupação de penhorar primeiro os bens e rendimentos líquidos e por último os bens imóveis”. Podemos estar descansados, não será para já que o Governo vai vender portugueses. Mas da ameaça não nos safamos, basta haver mercado…ou ser uma exigência da troika. Estamos a perder o Estado-nação, estamos a ganhar o Estado-ladrão! Na tela aparece desenhado um diabo a vermelho berrante.

O Tribunal de Contas concluiu que o peso da economia paralela e subterrânea aumentou nos últimos anos de 20 para 26%. Nem com os sorteios dos Audi A4 e A6 os contribuintes portugueses se tornam cumpridores e moralizam a nossa economia. Estão habituados a sentirem-se a viver muito acima das suas possibilidades. Talvez a medida tenha impacto se o sorteio contemplar um jato por mês. Um Audi já não dá estatuto social! A tela tem de transparecer todo o cinzentismo metálico de nuvens carregadas dum céu invernoso.

Portugal é o segundo país da Europa com mais emigrantes, só ultrapassado por Malta. Malta é uma pequena ilha que ganhou alguma visibilidade por recentemente o seu sistema bancário ter levado o país quase à bancarrota. Em Novembro de 2013, o Parlamento de Malta aprovou uma lei que permite adquirir a nacionalidade maltesa, incluindo o passaporte e o acesso ao espaço Schengen por 650 mil euros. A perspetiva era Malta angariar 30 milhões de euros. Portugal como é um bocadinho maior, o Paulo Portas promoveu os vistos dourados a um milhão de euros, principalmente para chineses e russos. A adesão tem sido boa, mas começou a acontecer o óbvio: os vistos dourados também têm sido atribuídos a personagens condenados por crimes financeiros e fiscais nos seus países de origem. Mas agora a sua cidadania é portuguesa. Querem transformar-nos num país de alguns endinheirados, muitos pobres e muita miséria. O dinheiro está para além da idoneidade, dos valores e princípios de cidadania, da nossa civilização. Ali Babá e os 40 ladrões são potenciais candidatos a vistos dourados. É uma questão de saírem das grutas, de aparecerem. Esta parte da tela tem de ser aos quadradinhos, a preto e branco.

O Banco de Portugal impôs uma coima de um milhão de euros a Jardim Gonçalves. Veio agora um juiz, o mesmo que queria nulo o julgamento onde foi preferida esta sentença, considerar que o processo prescreveu, ilibando o ex-banqueiro e sem qualquer hipótese de recurso. Apareceram alguns a chorar lágrimas de crocodilo assumindo estarem disponíveis para alterar os quadros legais para impossibilitar situações idênticas no futuro. É a melhor forma de nada alterar, de branquear a situação. Esta parte da tela fica mesmo em branco, por pintar. As lágrimas, mesmo de crocodilo, são transparentes.

O resto da tela tem de refletir os nossos sonhos, as nossas ambições, as nossas angústias, os nossos medos, a nossa vida. Quando todos, quase todos, quisermos ser pintores da vida, de nós próprios.




Publicado/editado: 07/04/2014