Valor Absoluto por Paulo Correia

Decorre, nestes dias, o maior encontro de professores de matemática de âmbito nacional – o ProfMat. Este evento (no conjunto das suas 30 edições) está entre os fatores mais relevantes, em Portugal, no âmbito do ensino da Matemática. A partilha de experiências, materiais e reflexões, tem contribuído para construir  e renovar uma identidade profissional forte e sustentada dos professores de Matemática. 

O ProfMat promoveu sempre a discussão a evolução de currículos, práticas pedagógicas, formação, tecnologia, comparações de resultados escolares (a nível nacional e internacional), manuais escolares, e de todos os aspetos que constituem e contribuem para o ensino da Matemática,  com um nível de consecução sem paralelo. Nos últimos 30 anos a tecnologia evoluiu para cenários dignos de ficção; a relação legislativa e funcional dos alunos com a escola alterou-se radicalmente; os currículos mudaram várias vezes (estranhamente, nem sempre para melhor). Todos os professores tiveram que incorporar estas mudanças na sua prática, na sua identidade profissional e na sua relação com a comunidade escolar. Acomodar estas evoluções, descobrir potencialidades nas novas oportunidades tecnológicas, curriculares e pedagógicas, ou posicionar-se de forma ativa e crítica sobre as questões relacionadas com o ensino da Matemática, de forma isolada, ou num grupo restrito de professores de uma escola é muito mais difícil, demora mais tempo e é muito menos recompensador, do que se for feito com um grupo (muito) mais alargado de colegas.

Um dos méritos do ProfMat é este... permite aos professores ouvir os professores. Permite perceber como fazem os outros, ouvi-los explicar porque o fazem e como costumam reagir os seus alunos; contribui para criar expetativas sobre metodologias e materiais antes e depois de as (e os) experimentarmos. 

Atravessamos uma época em que a formação de professores, de iniciativa ministerial foi reduzida para mínimos históricos (em quantidade e qualidade). São necessários mais espaços formativos, onde seja potenciada a troca de experiências e a análise crítica da atividade docente, em vez da transmissão acrítica e processual de informação (agora tão comum). Com esta conjuntura o ProfMat é ainda mais oportuno e importante – é um espaço de formação por excelência.

O ProfMat também foi mudando nos últimos 30 anos. Mudou a altura do ano em que decorre, mudou o formato, variou a duração, mudou sempre o local de realização, mas nunca houve um ano sem ProfMat, desde 1985. Quase sempre, um número de participantes que se contam em centenas (por vezes muitas centenas), professores de matemática de todos os níveis de ensino, convidados de outras áreas do conhecimento e especialistas de outros países, fazem deste um encontro com uma dimensão e qualidade que nos colocaria numa posição invejável num ranking deste tipo (se alguém o fizesse).

Mas a caraterística mais difícil de transmitir sobre as vivências num encontro como o ProfMat, e talvez a mais interessante, é o seu potencial inspirador. No final de cada encontro a vontade de fazer melhor, de experimentar uma nova abordagem, ou a noção de que o nosso posicionamento sobre um aspeto do ensino da matemática se alterou, são sentimentos frequentes. A noção clara de que saímos de cada ProfMat, com mais conhecimentos, com convicções mais estruturadas e fundamentadas, com a vontade de inovar ou fazer de outra maneira, é um motor da evolução e da melhoria do ensino da Matemática que não tem paralelo.

Se o leitor estiver no ProfMat, perceberá melhor estas palavras...se não está, nem nunca esteve, talvez não consiga perceber inteiramente a mensagem... mas a parte melhor de um evento XXX é que ninguém acredita que seja o último, felizmente!