Razões & Proporções por Vitor Santos

Eixos de Opinião abril de 2014



A Matemática debate-se com problemas com números e a Psicologia enfrenta inúmeros problemas,  igualmente complexos. A Psicologia estuda o comportamento e os processos mentais. Nesta rubrica vamos estudar alguns comportamentos, não individuais, mas colectivos através da realidade dos números.                  

 Victor Santos - Psicólogo       


Razões & Proporções por Victor Santos

Artigo de abril de 2014   

Título: Obrigado, abril

Abril tem de ser sempre celebrado, sentido e vivido como festa, com muita cor, alegria, sonoridade, movimento, participação e prazer. Abril abriu-nos o mundo e ao mundo e abriu-nos, principalmente, a nós próprios porque éramos o país do fado, futebol e Fátima, o país das guerras, do orgulhosamente sós, do vinho alimentar, o país pobre e com fome, analfabeto, medíocre e cinzento, bloqueado e seco de vivências, de cultura e da palavra, que fugia de si próprio para as franças e alemanhas da vida. Com Abril percebemos a aventura das descobertas, a construção do futuro com muitos sonhos, afetos e projetos, com muitos sorrisos e gargalhadas. Fizemos e fomos a festa, no individual como coletivo. Sentimos a força do acreditar e poder construir os nossos caminhos do desenvolvimento, do progresso, da vida com qualidade. Afirmamos o nosso orgulho enquanto povo, recuperamos a nossa identidade coletiva. E pusemos as mãos à obra e fomos construindo, nem sempre bem, nem sempre da melhor forma, mas sempre com memória para não esquecermos nunca onde estávamos e o que fizemos, sabendo utilizar as razões e as proporções da matemática da vida. E, por isso, alguns indicadores em 3 áreas chave do desenvolvimento humano, de cidadania e civilizacional.

Na área da saúde, a mortalidade infantil em 1970, em Portugal, era de 77,5% por mil nascimentos e a média europeia de 25,5%. Em 2012, os valores em Portugal passaram para 3,4%, contra os 3,9% da Europa. Éramos um país do terceiro mundo e tornamo-nos num país do primeiro mundo. Obrigado, Abril.

Na área da educação, em 1970 a população analfabeta em Portugal era de 25,7%, contra os 5% da Europa (os países do norte desde 1850 que têm taxas de analfabetismo próximas do 5%; a Inglaterra erradicou o analfabetismo em 1950, em Espanha em 1970 a taxa situava-se em 8,5%), em 2012 a nossa taxa situava-se em 5%. A educação pré-escolar abrangia 2,4% das nossas crianças em 1970 e em 2012, 89,3%. Frequentavam o 3º ciclo de escolaridade em 1970, 14,4% e em 2012, 89,9% e no ensino secundário cerca de 3,8% em 1970, contra os 72,3% em 2012. Segundo a OCDE em 2011 frequentava o ensino superior cerca de 15% da população portuguesa, contra os 30% da média dos países da OCDE. Em 1970 havia 49 461 a frequentar o ensino superior em Portugal e em 2010 o número foi de 383 627. Obrigado, Abril.

Na área da habitação, sobressai os atuais 65% da nossa população com casa própria. Em 1981, 74 603 portugueses viviam em barracas. Em 1970, 47,4% das habitações tinham água canalisada, 58% com instalações sanitárias e 63,8% com eletricidade. Obrigado, Abril.

Um recente relatório da OCDE refere que os doadores contribuíram com mais de 98 mil milhões de euros em ajuda pública ao desenvolvimento, com vários Estados a reforçarem o orçamento disponível, tendo havido um aumento histórico de 6,1% na ajuda ao desenvolvimento. Em contraciclo, Portugal liderou, a nível mundial, registando a maior redução orçamental. Em 2012 fomos o país da OCDE que menos investiu na educação, na ciência,… 

Já não sentimos a festa, os nossos olhares são tristes e melancólicos, caminhamos por encruzilhadas escuras, em múltiplos silêncios, na opacidade dum cinzentismo reinante, o futuro apresenta-se-nos sem esperança, sem presente. A culpa não é de Abril. Temos de continuar a acreditar no sonho, acreditar em nós próprios porque assim haverá sempre caminhos alternativos para a vida, com razões e proporções. 

 
Publicado/editado: 27/04/2014