Razões & Proporções por Vitor Santos

Eixos de Opinião junho de 2014



A Matemática debate-se com problemas com números e a Psicologia enfrenta inúmeros problemas,  igualmente complexos. A Psicologia estuda o comportamento e os processos mentais. Nesta rubrica vamos estudar alguns comportamentos, não individuais, mas colectivos através da realidade dos números.                  

 Victor Santos - Psicólogo         


Razões & Proporções por Victor Santos

Artigo de junho de 2014   

Título:  
O PEQUENO COMÉRCIO


Recentemente fui visitar o meu filho à Suíça e é de imagens dessa viagem que construo esta crónica. O reencontro fez jorrar uma corrente de afetos, desaguando nos abraços, nos sorrisos, nos olhares, nas palavras porque um filho é em todos os momentos e para toda a vida. Sinto-o crescido, maduro e independente na construção da sua vida com futuro. As distâncias, que não as  saudades, mexem mais comigo, nas preocupações. Naturalmente, com orgulho. 

Fomos visitar várias cidades, destacando Montreux e Berna. Aquela conhecida mundialmente pela organização de torneios de hóquei em patins e pelos festivais de jazz fascinou-me o seu imenso cosmopolitismo, o requinte do seu traço, a suavidade da sua beleza, o colorido dos seus jardins. De Berna, a textura da sua história, a sua arquitetura e religiosidade. Lá como cá, as urbes estão cada vez mais interessantes, na estética, no planeamento e qualidade de vida. E em todas as cidades sobressai a vitalidade e as dinâmicas dos seus comércios locais. Em todas as lojas há movimento de pessoas, há montras bem decoradas, há entradas que estimulam o consumo. Não há ( não vi) uma loja fechada. Percebe-se concorrência nos conceitos, inovação nos produtos, criatividade no marketing. O pequeno comércio da União Europeia emprega mais de 17 milhões de pessoas e representa mais de 20% das PMEs europeias. É um fator preponderante da vitalidade e dinâmicas locais, um elemento importante do comércio interno, das economias locais e do emprego.

E, em contraciclo, penso no comércio de proximidade em Portugal, do encerramento de cerca de 30% dos estabelecimentos nos últimos anos, atingindo em algumas cidades do interior os 50%. Leio quebras de 30% nas vendas, vejo todos os dias lojas com as grades corridas até baixo, montras despidas e empoeiradas, correspondências acumuladas por debaixo das portas, letreiros com “vende-se” ou “aluga-se”. Percebe-se desertas ruas que ainda há pouco tempo tinham uma grande vitalidade comercial. Sente-se o fim de ciclos de projetos familiares com décadas e alguns mesmo centenários. A respeitabilidade e importância social dão lugar à vergonha, ao insucesso, à frustração, à impotência.

Desde a Idade Média que as cidades são filhas do comércio. Este teve um papel fundamental no seu florescimento e nos planeamentos urbanos. Está ligado às nossas culturas, à nossa identidade, à nossa história.

Mas aqui Portugal, mais uma vez, está em contraciclo com a história e o seu tempo.

Publicado/editado: 29/06/2014