|
Ah, os problemas!
José Paulo Viana - Professor de Matemática na Escola Secundária de Vergílio Ferreira, autor da seção "Desafios" aos domingos no jornal Público |
Este velho livro de Arkady Averchenko tem vários contos e o primeiro deles é o que lhe dá título: Maldita Matemática.
O professor dita um problema e dá vinte minutos aos alunos para o resolverem:
Dois lavradores saíram do povoado A em direção ao povoado B. O primeiro anda 4 quilómetros por hora e o segundo 5. O primeiro saiu um quarto de hora antes do segundo.
A distância entre o povoado A e o povoado B é igual ao número de escudos que se ganhariam vendendo, à razão de 250 escudos, 10 tonéis de vinho que custaram tantos escudos como de dias somam os sete primeiros meses do ano de 1888.
O primeiro lavrador saiu às 5 horas e 7 minutos da manhã. A que horas chegará ao povoado B e quanto tempo depois do segundo lavrador?
O personagem principal é o aluno Semen Pantalikin que começa por murmurar: – Estou perdido!
O conto vai descrevendo os pensamentos e ações do aluno e os comentários que vai fazendo para si próprio.
– Um dos problemas mais difíceis que têm sido postos a uma criatura humana.
– Para responder em 20 minutos?
– Lavradores primeiro e segundo? Não têm nome? Como estão vestidos?
– São amigos? Pelo menos devem conhecer-se visto que entram no mesmo problema... Mas, se se conhecem, porque não viajam juntos?
– Povoados A e B? Absurdo! Coisa que só lembraria a um professor de Matemática.
– Qual é o objetivo da viagem?
– E porque vão a pé? Deve haver um mistério...
– E porque sai um deles um quarto de hora depois do outro? Vai a persegui-lo?
O conto, cheio de peripécias imaginadas pelo aluno, termina quando se esgota o tempo concedido pelo professor. Se conseguirem encontrar este livro num alfarrabista ou numa biblioteca ou na internet, vale a pena ler o conto e ver como estes problemas, que querem criar um contexto ligado ao “mundo real”, podem ter um efeito surpreendente nos alunos e, afinal, não corresponder de modo nenhum a situações concretas.
Entretanto, podem aproveitar para fazer aquilo que Semen Pantalikin não conseguiu: resolver o problema.