Entre Parênteses () por António Machiavelo
Eixos de Opinião outubro de 2014
Entre Parênteses () por António Machiavelo - Perguntas e respostas...
Eixos Opinião de outubro de 2014
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O que é a Matemática? Para que serve? Como é a Matemática usada no dia-a-dia? Que vantagens traz para a sociedade? E para o indivíduo, que vantagens há em saber Matemática? --- estas são perguntas feitas com muita frequência e para as quais é importante dar respostas adequadas. Nesta rubrica não serão oferecidas respostas directas, mas sim pistas para que os leitores sejam conduzidos a caminhos que poderão levar a algumas respostas. Isso será feito. por vezes, através de outras perguntas.
Porquê esta abordagem oblíqua? Porque para entender bem uma resposta há que, de algum modo, trabalhar para ela. Mais ainda, há perguntas que só devem ser feitas após alguma reflexão prévia e algum esforço, feito de moto próprio, que dá o direito de as proferir. Antes de exigir de outros que respondam às nossas questões, no mínimo deveríamos esforçar-nos um pouco para ver até onde podemos ir pelos nossos próprios pés. Até porque assim entenderemos muito melhor a resposta e o caminho que a ela conduz. Esta é uma das lições contidas em várias histórias antigas, necessariamente hiperbólicas, como todas as boas parábolas, de aprendizes que só ao fim de anos a observar o mestre ganham o direito a fazer uma, e uma só, pergunta. E mau é se não for uma excelente pergunta...
Pois bem, começo por deixar aqui algumas observações sobre uma falsa dicotomia, infelizmente muito comum e pedagogicamente nociva. É demasiado frequente ouvir-se dizer algo que, directa ou indirectamente, contém a ideia de que uma coisa abstracta (como a Matemática, por exemplo) não é prática, ou seja, é um pouco inútil. Para demonstrar que isto não pode, de modo algum, ser bem assim, deixo aqui um exemplo muito concreto, convidando o leitor a consultar o "site" da Agência de Segurança Norte-Americana, NSA/CSS (National Security Agency / Central Security Service), em www.nsa.gov.
A NSA é uma entidade do Departamento de Defesa Norte-Americano responsável por interceptar e analisar comunicações de indivíduos e organizações, dentro e fora dos Estados Unidos, que possam pôr em causa a segurança e interesses norte-americanos, assim como proteger informações confidenciais e sistemas de informação dos EUA. Isto envolve criptografia e criptanálise que, cada vez mais, usam matemática avançada e muito abstracta, o que é dito claramente em nsabackups.com/research/tech_transfer/advanced_math/index.shtml : «Os alicerces da NSA estão assentes em matemática altamente avançada». E logo de seguida: «Actualmente, somos o maior empregador de matemáticos do país». E, muito provavelmente, de todo o planeta. O número exacto de matemáticos a trabalhar na NSA é uma informação que não é pública, mas são certamente largas centenas.
Em www.nsa.gov/careers/career_fields/mathematics.shtml lê-se que «Os matemáticos da NSA passam os seus dias a trabalhar nos problemas e desafios mais importantes da actualidade. Aplicam Teoria de Números, Teoria de Grupos, Teoria de Corpos Finitos, Álgebra Linear, Teoria das Probabilidades, Estatística Matemática, Combinatória e muito mais». Há nesta frase duas coisas muito interessantes: na lista de áreas da Matemática estas não aparecem por ordem alfabética e as primeiras são áreas que muitos considerariam bem abstractas...
É difícil dar exemplo de um organismo que esteja mais interessado em resultados práticos e imediatos que a NSA. No entanto, para além do que já foi mencionado, pode ainda ler-se em www.nsa.gov/careers: «Inteligência. A capacidade de pensar abstractamente. Desafiar o desconhecido. Resolver o impossível». Não é curioso que uma agência com objectivos tão práticos coloque tanto ênfase na abstracção?