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Este espaço vai ser dedicado a aspectos simples da vida em contexto real, em que a matemática pode entrar como elemento surpresa. Em síntese, estas "linhas" terão como base "pontos" comuns da nossa vida, em que a objectividade da Matemática pode fazer compreender alguns "problemas" que vão surgindo em contexto real. Como afirmou Pitágoras, "Todas as coisas são números". Nesta rubrica tudo cabe... até a matemática.
Carlos Marinho - Professor de Matemática
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A história de rivalidades repete-se ao longo da história. Esta foi vivida no século XVI, mas tem contornos bem atuais. Dois brilhantes matemáticos italianos, Tartaglia e Cardano escreveram uma história de ódio e inveja. Fórmulas misteriosas, duelos públicos, traições, genialidade, ambição e, claro muita matemática!
Tartaglia (Niccolò Fontana) nasceu muito pobre. A tropa francesa, ao saquear a cidade de Brescia, invadiu o templo, onde ele estava refugiado juntamente com a sua mãe, irmã e grande parte da população. Com apenas sete anos foi ferido um soldado que lhe deu um golpe com um sabre no meio do rosto. Depois disso, o menino gaguejou anos a fio. Por isso os amigos o apelidaram de "Tartaglia". Cardano, por seu lado, foi um matemático e médico completamente viciado em jogos. Terá afirmado na sua autobiografia que jogou xadrez durante 40 anos e dados por 25.
Tartaglia descobre a fórmula das equações cúbicas tidas como impossíveis, chamando de imediato, a atenção de Gerolamo Cardano, obcecado pela fórmula secreta. Os dois constroem uma relação conturbada, marcada por amizade e hostilidade, que caminha rumo a um derradeiro e inevitável desafio. Cardano apercebendo-se que Tartaglia conhecia a regra de resolução das equações de 3º grau, conseguiu ser informado com a promessa formal de a não divulgar. Contudo, não cumpriu a promessa, divulgando-a como obra sua. Com este incidente ganhou em Tartaglia um inimigo mortal, cujos escritos muito contribuíram para espalhar a lenda de que Cardano era desonesto e um corrompido.
Neste duelo, a matemática passou por avanços incríveis, além de tangenciar a importante discussão sobre a necessidade de tornar públicos ou não conhecimentos científicos revolucionários. Os duelos que têm por base a inveja e a ambição são o pior dos males. O matemático Bertrand Russell referiu que “a ambição de possuir, mais do que qualquer outra coisa, impede os homens de viverem de uma maneira livre e nobre.”