À Distância por Daniel Folha

Eixos de Opinião outubro de 2014




                


Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.                            
Daniel F. M. Folha - Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N), Coordenador de Projectos e Protocolos do CIENCEDUC – Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N), Investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP)                                                                            


À Distância por Daniel folha

Artigo de outubro de 2014 

Clube de Matemática SPM

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Título: Bolas de Estrelas


Em órbita do núcleo da nossa galáxia encontram-se cerca de 160 bolas de estrelas, designadas por enxames globulares. Cada uma destas bolas contém um número de estrelas da ordem de algumas centenas de milhar, separadas por distâncias típicas da ordem de 1 ano-luz ou menores. Nas suas regiões centrais, os enxames globulares são tão densos que a distância típica entre estrelas é da ordem do tamanho do Sistema  Solar. Para comparação, na vizinhança do Sol a distância média entre estrelas é de cerca de 6 anos-luz.

As estrelas que compõem os enxames globulares são muito antigas, com idades tipicamente superiores a 10 mil milhões de anos e em diversos casos aproximando-se muito da idade do universo (13,8 mil milhões de anos). São estrelas muito pobres em elementos químicos para além do hidrogénio e hélio, como é esperado para estrelas que se tenham formado relativamente próximo do Big Bang, mas que não se constituem como a primeira geração de estrelas no universo. 

Os enxames globulares não existem apenas na Via Láctea, sendo encontrados em volta de muitas outras galáxias. Enquanto algumas destas bolas de estrelas devem ter sido formadas aquando da formação das próprias galáxias onde se localizam, outros foram resultado de encontros entre galáxias e da incorporação de pequenas galáxias em galáxias maiores.

A imagem seguinte mostra o enxame Omega Centauri, o maior e mais brilhante enxame globular da Via Láctea. Este enxame, visível na constelação Centauro, do hemisfério sul celeste, embora à vista desarmada se apresente com o aspeto de uma estrela, na realidade ocupa uma área no céu próxima à do tamanho da Lua cheia. Esta extensão é claramente identificada através de observações com binóculos ou com pequenos telescópios.


 

Crédito: ESO/INAF-VST/OmegaCAM

Omega Centauri tem algumas propriedades distintas das de um enxame globular típico. Por exemplo, orbita a Via Láctea no sentido contrário ao da rotação da galáxia e numa órbita muito excêntrica. Possivelmente,  Omega Centauri  é o núcleo de uma galáxia anã que a certa altura na história da Via Láctea foi incorporada pela nossa galáxia.

Como seria o céu noturno de um planeta como a Terra localizado nos seio de um enxame globular? Seria um céu pejado de muitas centenas, ou até milhares de estrelas, tão ou mais brilhantes do que as mais brilhantes estrelas visíveis no nosso céu noturno. Para nós, habituados ao céu visível da Terra, seria uma visão assombrosa! 
 



Todos os meses, no dia 13 de cada mês:

Publicado/editado: 13/10/2014