Razões & Proporções por Vitor Santos

Eixos de Opinião novembro de 2014



A Matemática debate-se com problemas com números e a Psicologia enfrenta inúmeros problemas,  igualmente complexos. A Psicologia estuda o comportamento e os processos mentais. Nesta rubrica vamos estudar alguns comportamentos, não individuais, mas colectivos através da realidade dos números.                  

 

 Victor Santos - Psicólogo   


Razões & Proporções por Victor Santos

Artigo de novembro de 2014   


Título: Não ter medo da esperança...




Nos últimos dias temos assistido a um vendaval que destruiu muitas das nossas estruturas e referências, danificou alguns dos nossos alicerces e modelos. Portugal está a viver momentos estranhos da sua e nossa história, talvez uma época negra. Sentimo-nos encurralados, mesmo perdidos e profundamente perplexos pela ignorância, arrogância e intolerância de vários acontecimentos.

Vivemos há mais de 5 anos em crise. Uma crise que começou com outros e é de outros lugares, mas que chegou a nós, primeiro como crise económico-financeira e de soberania, depois uma crise social e, posteriormente, uma crise de esperança para se transformar, atualmente, numa crise de valores e de identidade. Temos vivido envoltos num profundo negativismo, angustiados, sem esperança no futuro, num estado de desânimo, que em nada contribui para ajudar a resolver os desafios com que somos confrontados no nosso quotidiano. Sentimos e vivemos permanentemente com receios, medos e  inseguranças, mas inconscientemente, acreditávamos que as crises não são eternas.

Recentemente, sentimo-nos viver como cidadãos numa situação permanente de emergência. Tornámo-nos prisioneiros dum sistema cada vez mais organizado ao pormenor que nos quer infelizes, sem alternativas e sem identidade. Os nossos olhares não procuram o horizonte na busca do sonho, antes encontram um vazio cinzento e nublado, num mar de incertezas e sem portos de abrigo. Deixamos de fazer perguntas e discutir razões. Sentimos mais muros que estradas, mesmo que nos falem de muros caídos. Aprendemos a ter medo e a temer monstros, fantasmas e demónios. O medo é o mestre, o mentor que mais nos faz desaprender porque nos rouba a coragem de viver e a audácia de podermos ser nós próprios. 

Como diz Eduardo Galiano “os que trabalham têm medo de perder o trabalho; os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho; quando não têm medo da fome, têm medo da comida; os civis têm medo dos militares; os militares têm medo da falta de armas e as armas têm medo da falta de guerras”. Sabemos que o caminho tem de ser outro, como outros os “estados de alma”. Precisamos de nos mobilizar a todos para combater e libertar os medos que nos bloqueiam e paralisam, que nos podem fazer perder identidades. Precisamos de construir novas narrativas de esperança e confiança para que o medo tenha medo do medo.

Publicado/editado: 27/11/2014