Valor Absoluto por Paulo Correia

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião novembro de 2014



 


Opiniões, reflexões e observações, sem pretensões... A Matemática, o Ensino da Matemática e outros aspetos relacionados, serão por aqui vistos e comentados, com algum humor - sempre pelo lado positivo e "moduladas" pelo exercício da profissão docente.              

 

Paulo Correia - Professor de Matemática da Escola Secundária de Alcácer do Sal e responsável pela página mat.absolutamente.net     

Valor Absoluto por Paulo Correia  

artigo de dezembro de 2014  

Título: Há exames que vêm por bem...


Os exames têm uma história de mais de 200 anos na educação. Foram sempre assim... um conjunto de tarefas de papel­-e-­lápis com o propósito de selecionar os alunos... 


Em Portugal, a discussão em torno dos exames tem sido uma constante, em (grande) parte pela criação de muitos exames em pouco tempo para (quase) todos -  professores e alunos. Têm também sido recorrentes a validação de opções pela comparação com “países de referência”.

Uma notícia recente, disponibiliza algumas informações sobre o exame nacional de Singapura consensualmente um país de referência. Na notícia destacam-­se vários aspetos interessantes, o exame (equivalente ao 6º ano) é só um. Por lá (em Singapura) os alunos do 6º ano fazem o primeiro exame, por cá, na mesma idade, já fizeram 4 exames... 


Mas o mais interessante tem que ver com os resultados: 97,6% dos alunos “passou” no exame. Parece que o exame é construído claramente para promover o sucesso. E não foi por acaso ­ no ano anterior tinha sido 97,6 %. Quando um exame é (bem) construído, consegue­-se prever a classificação média com uma precisão notável, ou seja, as classificações médias são aquelas que queremos que sejam. Em Singapura querem exames promotores de sucesso! Por cá a opção tem sido outra... 


Mais ainda, o governo decide não publicitar os dados dos melhores resultados “para reduzir o ênfase no desempenho académico”. Por cá a opção tem sido outra... 


Mas outras notícias têm colocado outros exames num novo paradigma... na Finlândia (outro país de referência) os exames de papel e lápis têm os dias contados. Após a constatação que o ensino tradicional não tem contribuído para o desejável desenvolvimento de competências na área das TIC, os finlandeses, estão a promover a alteração dos exames no sentido de levar a escola a investir no desenvolvimento destas competências! 


E esta questão não é exclusiva da Finlândia... Recentemente foram divulgados os documentos preparatórios do PISA 2015 e a questão da utilização do computador na realização das provas é colocada de forma explícita. A utilização do computador era opcional em 2012, mas a utilização do papel e lápis será residual em 2015... apenas “para aqueles países que escolhem não usar o computador na avaliação dos seus alunos” (p. 8). Os exames sustentados na utilização de computadores proporcionam oportunidades para incluir tarefas com uma maior variedade de ferramentas matemáticas, que só é refreada pela necessidade de assegurar a comparação com os exames de 2012, pode ler­-se na mesma página do documento. Deixa-­nos adivinhar a desejável inclusão, numa prova com semelhanças a um exame, de itens cuja resolução depende da utilização de uma folha de cálculo, de um ambiente de geometria dinâmica, ou até de uma aplicação CAS. 


Portugal já esteve entre os países mais inovadores neste domínio, quando introduziu a utilização de calculadoras gráficas em exames. Agora parece estar num processo de estagnação, em termos de integração da tecnologia no ensino da matemática, e em termos de exames. Temos exames que avaliam com os objetivos e as metodologias do século passado. Tendo os exames sido descritos por alguns como “um mal necessário”, podemos olhar para as melhores práticas neste domínio e verificar que... há exames que vêm por bem!

Publicado/editado: 11/12/2014