À Distância por Daniel Folha

Clube de Matemática SPM - Eixos de Opinião dezembro de 2014




                


Distâncias (quase) infinitamente grandes e distâncias (quase) infinitamente pequenas estão intrinsecamente relacionadas no Universo de que fazemos parte e que aos poucos vamos tentando conhecer melhor. Nesta rubrica escreverei algumas palavras, e números (!), sobre o Universo que vemos quando olhamos para um céu estrelado numa noite límpida. Uma modesta contribuição para ajudar a reflectir sobre a nossa posição no contexto cósmico.                              
Daniel F. M. Folha - Professor Auxiliar do Instituto Superior de Ciências Saúde – Norte (ISCS-N), Coordenador de Projectos e Protocolos do CIENCEDUC – Educação para as Ciências (Departamento de Ciências do ISCS-N), Investigador do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP)                                                                              


À Distância por Daniel folha

Artigo de dezembro de 2014   

Clube de Matemática SPM

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TÍTULO: Fogo de Artifício Interestelar

Decorria o ano de 1054 da nossa era quando astrónomos chineses registavam o aparecimento de uma nova estrela no céu. Inicialmente essa estrela teria sido visível em plena luz do dia e só viria a desaparecer do céu noturno quase dois anos depois.

No local em que apareceu essa nova estrela, na constelação do Touro, hoje vemos uma nebulosa: a nebulosa do caranguejo. No centro da nebulosa uma estrela de neutrões. Ambas o resultado da gigantesca explosão que pôs fim à existência de uma estrela. Este tipo de explosões é um fenómeno designado por supernova.


 
Nebulosa do caranguejo. Crédito: ESO

A estrela de neutrões é o que resta da estrela que explodiu. É um objeto muito denso, com um tamanho de cerca de 20 km, onde está contida uma massa cerca de 40% maior do que a massa do Sol. Rodando sob si própria 30 vezes em cada segundo, a estrela emite radiação segundo direções bem definidas. Em cada rotação essas direções intersetam a Terra, pelo que a estrela é vista daqui como se de um farol se tratasse e, por isso, é designada por pulsar.

A radiação emitida pelo pulsar cobre todo o espectro eletromagnético, desde a radiação menos energética, as ondas rádio, até à mais energética, a radiação gama. De facto, se os nosso olhos vissem o céu em raios-x e em raios gama, o pulsar da nebulosa do caranguejo seria quase sempre o objeto mais brilhante no céu.

Esta nebulosa, e outras nebulosas resultantes de supernovas, são conhecidas por remanescentes de supernova. Situada a cerca de 6500 anos-luz da Terra, a nebulosa do caranguejo tem uma forma alongada, com tamanho aproximado de 13,4 anos-luz por 8,8 anos-luz e encontra-se em expansão, espalhando pelo espaço interestelar restos da estrela original, incluindo elementos químicos sintetizados por ela durante a sua existência, mas também elementos químicos que apenas são produzidos durante explosões supernovas, ou que deles resultam por decaimento radioativo.

Estima-se que a taxa média de ocorrência de supernovas na Via Láctea ronde uma por cada 50 anos. Se pudéssemos ver um vídeo da Galáxia, em time lapse, desde o aparecimento da nossa espécie, ficaríamos certamente maravilhados com um espetáculo de fogo de artifício interestelar!

Boas Festas!

Publicado/editado: 13/12/2014