Valor Absoluto por Paulo Correia

Diz-se que estamos num tempo novo… nas aulas de Matemática parece que é o tempo, em que não há tempo… ou pelo menos, o tempo em que precisamos de mais tempo.

Os alunos, nas aulas de Matemática, (em especial, no 10º ano de Matemática A) precisam de mais tempo para compreender a quantidade de informação que está a ser veiculada.

Os professores de Matemática não têm tempo para conseguir abordar a quantidade de informação, que os programas prescrevem, com as oportunidades razoáveis de consolidar as aprendizagens, o esclarecimento de dúvidas e a promoção de um ensino de qualidade.

O poder político tem pouco tempo para implementar reformas que permitam a garantir mais tempo a alunos e professores… e que para serem bem sucedidas, demoram tempo a ser implementadas.

Finalmente (em bom tempo), vários indicadores apontam no sentido de estarem em preparação alterações ao currículo de Matemática. Estas alterações foram reclamadas, são necessárias e serão bem acolhidas… mas devem ocorrer em dois tempos.

No imediato são necessárias indicações para a gestão do currículo. É importante enquadrar as opções curriculares dos professores num todo coerente, identificando o essencial e o acessório. O currículo de Matemática em vigor está a confirmar-se desajustado por não se adequar aos alunos e por não haver tempo para o desenvolver de forma satisfatória… Os professores fazem as opções possíveis sem qualquer referência segura ou acompanhamento para este processo de tomada de decisão, com materiais e manuais que não ajudam neste processo de gestão do currículo.

Num cenário temporal mais alargado, é importante criar condições para mudanças curriculares mais estruturadas. A experiência de outros tempos mostra que as mudanças mais eficazes levam tempo… devem ser preparadas, discutidas, propostas, acompanhadas e avaliadas. 

Em países com sucesso nos estudos internacionais (antes apontados como referência) o currículo é alterado em intervalos de tempo regulares, previstos e bem definidos, enquadrado num processo regular de avaliação e discussão. Na conjuntura atual, entre as melhorias necessárias, o ordenamento temporal das mudanças ganhou uma relevância acrescida.

A par da necessidade de definir um currículo para a Matemática mais adequado aos alunos, mais adequado ao contexto social do nosso tempo, que para além dos conteúdos enquadre metodologias, recursos e avaliação… a necessidade de fazer avaliações, prever reformulações, promover discussões e fazer depois as alterações ganhou importância - temos que aprender com os erros dos últimos tempos. 

É fundamental criar condições para que a instabilidade não seja fácil de ser criada e que a evolução (desejável) não seja um fator de instabilidade.