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A geologia é a
ciência que estuda a Terra em termos da sua evolução no passado
geológico e também, o seu estado presente. Pela sua natureza, abarca o
estudo de rochas com muitos milhões de anos e observações de processos
recentes relevantes para compreensão das mudanças climáticas globais.
Recorrendo a números tentarei dar uma visão da complexidade da Terra, da
sua história, dos seus processos e da importância que estes assumem em
questões essenciais para as sociedades modernas, como por exemplo, a
previsão do clima, dos sismos e erupções vulcânicas, o fornecimento de
água, recursos energéticos e minerais.
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Segundo os mais recentes estudos a idade da Terra é 4540 milhões de anos (4 540 000 000 anos). Esta idade é determinada por métodos de datação que usam elementos radioactivos como o urânio, presentes na composição de certos minerais formadores das rochas. No início do século XX Frederick Soddy e Ernest Rutherford sugeriram que os elementos radioactivos desintegravam-se espontaneamente para formar outros elementos químicos estáveis ou radioactivos, e que a taxa de desintegração era proporcional ao número de átomos radioactivos presentes num determinado tempo. Em 1906 os dois cientistas definem as leis da desintegração radioactiva e demonstraram que esta contribuía também para a manutenção das elevadas temperaturas existentes no interior da Terra. A desintegração radioactiva dos elementos permitiu o desenvolvimento da datação radiométrica, que é a técnica mais utilizada para datar rochas o que desde então tem permitido conhecer com exactidão numérica a cronologia da História da Terra.
Todavia, é talvez uma surpresa para a maioria das pessoas saberem que a idade da Terra não pode ser determinada directamente das suas rochas e minerais. A idade da Terra é fornecida pela idade radiométrica dos meteoritos mais antigos das rochas da Lua mais antigas trazidas pelas diferentes missões Apollo. Isto deve-se à dinâmica geológica de Terra que recicla continuamente, por movimentos de convecção, as rochas da crosta e manto terrestre. Fenómenos geológicos como o vulcanismo e os sismos são consequências dos processos de convecção. A rocha mais antiga da Terra encontrada até hoje, tem aproximadamente 4031 milhões de anos, sendo cerca de 500 milhões de anos mais jovem que a idade da Terra, atestando a vigorosa reciclagem das rochas que terá ocorrido na Terra “jovem”. A reciclagem das rochas por convecção não ocorreu na Lua pelo que parte das suas rochas conjuntamente com alguns meteoritos que caíram na Terra, constituem os materiais contemporâneos do tempo da formação da Terra. Constitui uma prova adicional da idade da Terra e da activa de reciclagem das rochas ocorridos nos primeiros tempos da sua história, a descoberta na Austrália de minerais de zircão com cerca de 4404 milhões de anos, incluídos em rochas com uma idade mais recente de 3060 milhões de anos. A idade dos zircões, mineral muito resistente aos processos de reciclagem das rochas, sugere que na Terra existiram rochas com cerca de 4404 milhões de anos (idade esta que se aproxima da idade da Terra) que posteriormente foram recicladas pelos processos de convecção.
Antes da descoberta da radioactividade o Homem já se interrogava sobre a idade da Terra. As primeiras estimativas da idade da Terra estão intimamente relacionadas com as narrativas cosmogónicas das primeiras civilizações. Nestas o tempo é entendido de duas formas opostas: um tempo cíclico (eterno) ou um tempo linear com um começo e fim. A concepção de um tempo cíclico (roda do tempo) é comum ao hinduísmo, budismo e a alguns pensadores da antiguidade grega. Nesta visão de tempo é impossível quantificar a idade da Terra pois esta sempre existiu e sempre existirá. Por exemplo, no hinduísmo um ciclo de destruição seguido de renovação pelo Deus Brama é de 100 anos de Brama que equivalem a 311 040 000 000 000 anos solares. Concluído um ciclo recomeça novo ciclo repetindo-se estes sem um fim.
Na tradição judaico-cristã o tempo é linear. Foram várias as tentativas feitas por teólogos para calcular a idade da Terra tendo como base a narrativa bíblica desde a criação até ao nascimento de Jesus Cristo. Em 1650 o Arcebispo anglicano irlandês James Ussher (1581 – 1656) publica um estudo em que calculou a idade da Terra com base numa combinação de ciclos astronómicos, relatos históricos e cronologia bíblica. Neste estudo concluiu que a Terra tinha sido criada num Domingo, dia 23 de Outubro do ano 4004 a. C., a Terra teria portanto 6015 anos. A sua cronologia da criação foi incluída na grande edição da Bíblia Inglesa de 1701, pelo que se tornou muito popular e considerada como um dogma pela Igreja (cont.).