André Neves, matemático, em entrevista exclusiva do clube spm de julho de 2018...

Clube Entrevista de julho de 2018

Entrevista exclusiva a André Neves, matemático e professor do Departamento de Matemática da Universidade de Chicago. O nosso convidado fica na história da matemática por ser o primeiro matemático português a ter ganho uma bolsa de mais 1 milhão de dólares da Starting Grant do Conselho Europeu de Investigação. Desde a paixão pela matemática passando pelo IST, por Londres e os EUA, pelas saudades da família e de Portugal até dos seus tempos livres, aqui fica a demonstração que a humildade e a inteligência são características dos melhores. No clube não damos prémios de 1 milhão de dólares mas levamos até si esta entrevista única com esta geometria de um matemático que nos orgulha e ajuda a mudar o mundo todos os dias. 

A tua paixão pela matemática tem origem em que referencial?
Sempre gostei de matemática e tive sorte de ter tido bons professores no secundário. No entanto quando estava no IST tive um curso (EDO’s) com o Professor Sousa Ramos que foi inspirador (se bem que não tivesse percebido tanto quanto quisesse). Nessa altura decidi mudar de engenharia para matemática. 

Fazes a licenciatura no Instituto Superior Técnico em 1999. O que guardas dessa época?
Gostei imenso de ter estudado no IST. Foi lá que conheci a minha mulher e fiz amizades que hoje ainda persistem.

O passo seguinte foi a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Porquê?
Quando estava a acabar a licenciatura, houve bastantes professores novos que tinham acabado de voltar do doutoramento nos EUA . Pela atitude e energia que tinham, inspiraram-me a fazer também o doutoramento nos EUA. Concorri a vários programas de doutoramento, fui rejeitado em alguns, aceite noutros, e Stanford pareceu-me o sitio mais agradável.

Mais tarde Londres. Como foi a experiência?
Também gostei imenso. O meu segundo filho nasceu lá, a minha investigação diversificou-se, e conheci de novo pessoas que me inspiraram a continuar  a minha linha de pesquisa.

És atualmente professor do Departamento de Matemática da Universidade de Chicago. Porquê esta escolha?
Pelo desafio. A Universidade de Chicago tem imensos recursos mas não tem ninguém na minha área de investigação. Eles fizeram-me uma boa proposta e a ideia de formar um grupo na minha área (Analise Geométrica) foi bastante atractiva.

As diferenças entre Londres e Chicago e Lisboa, a tua terra natal?
Tem todas o seu charme. Lisboa tem o mar, Londres um rio, e Chicago um lago.  Apesar de serem obviamente diferentes, a vidas nas cidades é igual em todo o lado.

Foste o primeiro matemático português que recebeu uma bolsa de 1 100 000 de euros da Starting Grant do Conselho Europeu de Investigação. Como foi esta distinção?
Foi importante, principalmente porque me ajudou bastante na minha investigação e a formar um grupo na minha área em Londres.

Já recebeste diversos prémios: Oswald Veblen AMS Prize, 2016; New Horizons in Mathematics Prize, 2016; Royal Society Wolfson Merit Award, 2015; LMS Whitehead Prize, 2013; Philip Leverhulme Prize, 2012; Excellence in teaching award, Princeton, 2006. Começa a ser uma demonstração comprida do teu talento para a matemática... Parabéns!
Obrigado!

Na tua área de investigação, quais são os domínios que privilegias?
Eu sou um geómetra e estudo a relação entre propriedades do espaço ambiente, curvatura, e superfícies no espaço ambiente que estejam em posições de equilíbrio.  A área é interdisciplinar e mistura análise, geometria e topologia.

Como reagiu a tua família quando decidiste estudar matemática fora de Portugal?
Na altura apoiaram-me imenso mas à medida que o tempo passa acho que ficariam contentes se voltasse para Portugal .

O que fazes nos teus tempos livres?
Passo tempo com a minha família (mulher e filhos), passeio, vejo filmes, leio, e faço ciclismo.

Do que sentes mais saudades de Portugal?
Da minha mãe, do meu pai, e da minha irmã. 

O matemático Alfred Rényi disse um dia que “quando estou infeliz trabalho em matemática para ficar feliz. Quando estou feliz, trabalho em matemática para me manter feliz”.  O que te faz feliz? 
Estar com as pessoas que gosto e aprender coisas novas (seja na matemática ou noutro assunto qualquer).

Entrevista de Carlos Marinho

Publicado/editado: 01/07/2018