Daniel Guedes (Mágico) - Entrevistado do clube spm em novembro de 2018

Clube Entrevista

Daniel Guedes é o convidado do clube spm de novembro de 2018. Uma entrevista de pura ilusão, com truques mágicos que vão desde a infância, à família, à escola, passando pela FCUP e, vai até um grande coelho a sair da cartola que é a matemática. O nosso convidado é licenciado em matemática e revela nesta entrevista fora do baralho porque razão é um caso notável na magia que se faz em Portugal. Estes são os principais temas de uma entrevista que vai muito além de um simples toque de magia. Sem truques chega até si nesta fatorização simples. Está na hora de fazermos magia...

Nasceste em Matosinhos. O que guardas na “Caixa Mágica” sobre a tua infância?
Guardo precisamente a caixa de magia que recebi quando era criança, foi o meu principal brinquedo e acompanhava-me para todo o lado. Guardo também  o meu primeiro espectáculo de sempre para desconhecidos, com apenas 10 anos, e no qual tive que falar em inglês. Depois guardo os amigos (grande parte deles ainda o são hoje), o jogar futebol na rua, o andar de bicicleta, as férias grandes com dias inteiros na praia a jogar raquetes, o mês de Agosto na aldeia dos meus pais no Douro perto da Régua com os meus primos, as maratonas de desenhos animados na TV nas manhãs de sábado e domingo, os primeiros jogos de computador e as primeiras consolas... Porra, que criança feliz. Continuo igual, criança e feliz!

Estudaste em Matosinhos, primeiro no Escola João de Deus, depois na Básica de Matosinhos e, o secundário na Escola Augusto Gomes. Se fosse possível fazer magia e voltar a esse tempo, o que nos recordavas?
Cada escola tem as suas memórias, sobretudo por cada uma ter surgido em idades muito diferentes, mas bom aluno em todas.
No João de Deus, com uns 5 anos, lembro-me de numa aula assistida pelos pais estar tão nervoso que, sendo eu canhoto, resolvi um problema de matemática no quadro escrevendo com a mão direita e só um pouco mais tarde dei conta ao ver os dedos dessa mão sujos de giz em vez dos da mão esquerda. Na Básica, por volta dos 10 anos, recordo intervalos inteiros a jogar futebol e imitar o festejo dos golos de um dos meus ídolos de infância, o Domingos Paciência. Na Augusto Gomes, aos 15 anos, lembro-me do meu primeiro grande espectáculo, num sarau cultural da escola, que correu muito bem.

Com 8 anos recebes uma caixa mágica. Foi aí que tudo iniciou...
Na verdade terá sido antes até porque eu já gostava muito de ver magia na televisão. Ao repararem nisso, os meus pais ofereceram-me essa caixa de magia que mudou a minha vida. Quando mais tarde, em 2008, decidi sair do emprego onde estava para me dedicar à magia a tempo inteiro, os meus pais não gostaram muito da ideia, mas eu lembrei-lhes o que tinha sucedido aos 8 anos e que portanto a culpa era deles! :)

Ser mágico profissional é…
É o meu sonho de criança concretizado. Ou melhor, a concretizar-se, porque isto nunca estará acabado...

Fazes muitos espetáculos em todo o país. Portugal é um espaço bom para trabalhar nesta área?
Eu acho que sim. Não sou daqueles que se queixa do seu país. A quantidade de pessoas que ao longo dos anos me têm dito, depois de assistir a um espectáculo meu, que nunca tinham visto magia ao vivo, leva-me a concluir que ainda há muito público para a magia conquistar.

Tens  tido diversas presenças em programas de televisão. A televisão é também uma caixa mágica para a magia?
A televisão continua a ser uma caixa mágica não só para a magia, mas para tudo, e que hoje em dia é brutalmente potenciada com a ajuda da internet e das redes sociais. O impacto de uma aparição num qualquer programa de televisão é imenso. Nunca acredito quando alguém me diz que não vê televisão.

E truques a matemática. Fazias?
Sempre que podia! Era frequente, sobretudo na faculdade, incluir magia nas apresentações dos meus trabalhos. Tive professores que gostavam, outros nem por isso.

A matemática para ti foi também um mundo mágico. És licenciado em Matemática Aplicada à Tecnologia em Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Como foi fazer este curso?
Custou-me um pouco, a meio pensei em desistir. De certa forma sempre o encarei como um plano B, algo a que pudesse recorrer caso as coisas na magia não resultassem. Por esse motivo, às vezes foi difícil encontrar a motivação certa. Mas terminei o curso, com boas notas, e ainda trabalhei na área durante 1 ano e meio, primeiro numa seguradora e depois num banco.

Intersectas a magia com o raciocínio matemático. A matemática ajuda-te no desenvolvimento desta arte de fazer magia?
Sim, ajuda bastante. Sinto que tenho um raciocínio lógico mais apurado do que outros colegas mágicos, bem como uma maior facilidade em entender alguns dos princípios matemáticos que são utilizados sobretudo na magia com cartas, e ainda uma melhor forma de usar as probabilidades a meu favor.

Para muitos a matemática é uma ilusão. Para ti é...
Para mim é um hobbie. Sempre gostei e sempre tive um jeito natural para a matemática. Pensei que a matemática ia acabar por ser a minha profissão e a magia o meu hobbie. Felizmente as coisas inverteram-se!

O professor de matemática faz magia, cria ilusões, baralha emoções na sala de aula tal como o mágico? Será que é uma boa analogia?
Com o estigma que existe à volta da matemática numa boa parte dos alunos, um professor conseguir motivar e fazer com que um aluno passe a gostar de matemática, já é uma magia enorme!

O matemático Alfred Rényi disse um dia que "quando estou infeliz trabalho matemática para ficar feliz. Quando estou feliz, trabalho matemática para me manter feliz". Já sabemos que a magia te faz feliz. O que mais te faz feliz?
Uma vitória do FC Porto!! :) Desde que a família e os amigos que estão à minha volta estejam bem, eu estou feliz. Mas não há mesmo sensação como a de receber os sorrisos e um aplauso de pé de uma plateia inteira, nesta fase da minha vida é o que genuinamente me faz mais feliz.

Publicado/editado: 01/11/2018