Afonso S. Bandeira - Professor de matemática no Instituto Courant de Ciências Matemáticas, da Universidade de Nova York, nos EUA

Clube Entrevista de junho de 2018 - Entrevista 83

Afonso Bandeira, matemático português a trabalhar nos EUA é o convidado de junho do clube spm. Nasceu em S. Pedro do Sul mas cedo foi estudar para Coimbra. Atualmente é professor de matemática no Instituto Courant de Ciências Matemáticas, da Universidade de Nova York. Ao longo da entrevista teremos resoluções simples da infância, das olimpíadas, do doutoramento em Matemática Aplicada e Computacional na Universidade de Princeton, do prestigiado Sloan Research Fellowship 2018, dos tempos livres e da família. Aqui fica a entrevista com estas equivalências...

Em poucos cálculos, como foi a sua infância? 
Cresci em São Pedro do Sul, numa encantadora vila do interior; que agora é cidade. Passei por todas as fases normais do que queria ser quando fosse grande: astronauta, engenheiro, etc. Felizmente ganhei juízo e descobri a Matemática!

A sua paixão pela matemática tem origem em que referencial?
O mais provável é vir do lado materno, dada a habilidade que a minha mãe tem em ensinar matemática a crianças. Do ponto de vista mais explícito, ter ido as olimpíadas de matemática, e participar no projecto Delfos, teve um papel fundamental.

Enquanto aluno do Ensino Secundário, em 2006, conquistou o Prémio Bento de Jesus Caraça. Como foi receber esta distinção tão novo?
Foi uma óptima experiência e incluiu uma viagem a uma escola de Verão no Michigan (nos EUA) que foi a cereja no topo do bolo. Ainda hoje mantenho contacto com o Professor que deu esse curso!

Participou nas Olimpíadas Portuguesas e Internacionais de Matemática. Como recorda estes momentos?
A participação nas Olimpíadas e no Projeto Delfos permitiu-me descobrir realmente o que é a Matemática que tanto gosto. Teve um papel importantíssimo nas minhas decisões profissionais! Do ponto de vista pessoal, fiz amigos que ainda vejo com muita frequência, termos recebido uma viagem de inter-rail pela Europa como prémio das olimpíadas ajudou!

Foi aluno da Universidade de Coimbra. É verdade que Coimbra tem mais encanto na hora da despedida?
Coimbra tem sempre encanto! A minha sensação é que Coimbra é "desenhada para os estudantes", ser estudante lá é uma experiência única.

Fez o doutoramento em Matemática Aplicada e Computacional na Universidade de Princeton, sob orientação do Professor Amit Singer, com a dissertação ConvexRelaxations for Certain Inverse Problems on Graphs. Este trabalho foi...
O doutoramento foram 5 anos espectaculares, com total liberdade para explorar diferentes áreas de conhecimento, aprender sobre qualquer interesse que ia tendo. A dissertação em si é um compêndio dos diferentes resultados que desenvolvi durante este tempo (com colaboradores), vistos pela minha perspectiva.

Foi instrutor de Matemática Aplicada no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Quanto tempo foi e serviu para...
Foi 1 ano. Foi um óptimo ano porque já tinha decidido ir para NYU no ano seguinte, portanto foi um ano sem qualquer tipo de pressão (o sonho académico!). Aproveitei para compilar uma lista de 42 problemas em aberto na área de Matemática e Data Science que ainda hoje recebem alguma atenção, é comum receber correspondência sobre essa lista.

No área da investigação, quais são os domínios que privilegia no seu trabalho?
Exploro problemas que penso serem não só importantes do ponto de vista prático mas, para mim ainda mais importante, também fundamentais do ponto de vista teórico. Quando um problema é realmente fundamental, encontra aplicações em todo o lado. Algumas das aplicações incluem: aplicações em microscopia (tirar fotos a proteínas), robótica, navegação autónoma, privacidade de dados.

Foi recentemente distinguido com o prestigiado Sloan Research Fellowship 2018. Este prémio é...
Uma honra. É óptimo ver o nosso trabalho (meu e da minha equipa) ser reconhecido desta forma.

É atualmente professor auxiliar do Instituto Courant de Ciências Matemáticas, da Universidade de Nova York, sendo membro do Departamento de Matemática e do Centro de Data Science. Como surgiu esta oportunidade?
Simplesmente concorri à posição, o normal no sistema Americano: quando estava a acabar o doutoramento concorri para muitas posições e felizmente uma das ofertas que tive foi exactamente a posição que queria :)

Como reagiu a sua família quando decidiste estudar matemática fora de Portugal?
Acho que não foi nenhum choque, foi claro desde cedo que este seria um caminho possível para seguir a carreira de matemático.

O que faz nos seus tempos livres?
Há um ditado conhecido "Choose a job you love, and you will never have to work a day in your life. " (tentei descobrir a quem dar crédito, mas parece ter controvérsia)... Para além de matemática, faço várias coisas. Ultimamente para além de viajar (muitas vezes para Portugal), tenho passado algum tempo a jogar video jogos, fazer surf, fazer todo-o-terreno e jogos de mesa.

Do que sente mais saudades de Portugal?
Tenho ido a Portugal 3-6 vezes por ano, portanto vou matando saudades. Para além da família, o estilo de vida relaxado, estar sentado ao sol numa esplanada à hora da almoço num dia de trabalho, aquelas coisas que não se sente falta até se perceber que não existem em todo o lado!

O matemático Alfred Rényi disse um dia que "quando estou infeliz trabalho em matemática para ficar feliz. Quando estou feliz, trabalho em matemática para me manter feliz". O que o faz feliz?
Pensar em Matemática ajuda certamente, mas muitas outras coisas ajudam; visitas frequentes a Portugal inclusive! E ser convidado para dar entrevistas depois da lista de entrevistados que o Clube SPM tem; neste caso a felicidade vem com algum nervosismo de saber que é difícil ter tanta piada como o Nuno Markl.

                                                                                                                                                                                                  Entrevista de Carlos Marinho

Publicado/editado: 01/06/2018