Entrevista ao árbitro internacional de futebol Jorge Sousa

Clube Entrevista

Jorge Sousa, árbitro internacional de futebol é o entrevistado do clube spm de abril de 2018. As grandes linhas desta entrevista ligam os lances da infância, passam pelas áreas da escola e da matemática, pelo passar cartão à arbitragem e pelo melhor terreno de jogo, a família. Este é o apito inicial de uma conversa com o melhor árbitro nacional da época 2017/2018 que vai até si neste jogo de palavras...

A sua infância num simples relatório diria que foi feita entre Paredes e... 
Paços de Ferreira. 50% da família é de Paredes, 50% é de Paços de Ferreira.

Em que liga jogava nas aulas de matemática na escola? 
No início, no distrital. Com o passar dos anos, atingi os nacionais. Não passei daí.

Começou por jogar futebol mas a arbitragem “apitou” mais alto. No seu caso, a arbitragem é uma paixão? 
Já foi, hoje nem tanto. Todos estes anos acumulados fazem-nos continuar a gostar da arbitragem, mas de um modo mais consciente, mais sereno e maduro. 

Mas arbitrar também pode ser sinónimo de sacrifício. Ainda se lembra, por exemplo, de ter um fim de semana em família sem pensar em futebol? 
É difícil, sobretudo agora que temos o VAR. Se não há jogo no campo, há enquanto VAR. Esta época, a este nível tem sido exigente, mas compensa-se noutros momentos.

Há mais de 2500 anos, o matemático Pitágoras descobriu um teorema (Teorema de Pitágoras) que justifica de alguma maneira o deslocamento dos  árbitros no campo de futebol, na diagonal. Percorrem a hipotenusa (diagonal) em detrimento dos catetos. É um bom movimento porque permite... 
ver o jogo de perfil e colocá-lo sempre entre o AA mais próximo e o árbitro.

A matemática tem muito de intuitiva. O matemático francês Henri Poincaré dizia  que “provamos através da lógica, mas descobrimos a partir da intuição.” A arbitragem tem muito de intuitiva? 
Diria mais, a arbitragem é sobretudo intuitiva, instinto, cheiro, perceção. O resto, sendo importante, vem num plano secundário.

Para um matemático 4X4x2 é igual a 32. O árbitro tem necessidade de perceber taticamente o jogo?
Claro que sim. Quanto mais e melhor preparado estiver, menos sujeito a surpresas estarei. Mais predisposto vou estar para as situações. O conhecimento tático do jogo é um dos elementos que nos pode fazer antecipar muitas situações. Ou seja, antes de acontecerem, já estamos a contar com elas.

Aplicar competências e conhecimentos mas em frações de segundo. Esta poderia ser uma boa definição das principais dificuldades de uma arbitragem?

Sim, faz sentido dizer-se isso. Podemos estar dotados de todas as competências necessárias, mas o facto de termos muito pouco tempo para decidir, muitas vezes após um sprint ou no meio de um aglomerado de pessoas que não nos permite ver da melhor forma, é um desafio constante na nossa atividade.

O VAR é uma ferramenta que...
veio para ficar.

Que tipo de preparação faz para se manter no topo da arbitragem?
Física, tática, técnica, teórica e mental.

É um dos melhores árbitros da Europa. Para quando a sua presença num Campeonato da Europa/Mundo ou final da Liga dos Campeões? 
Já passou essa possibilidade. Neste momento, os objetivos passam por desfrutar ao máximo da arbitragem, continuar a aprender e deixar uma marca de competência e credibilidade no setor. A imagem que fica será sempre a última e nesse aspeto, quero terminar a carreira da mesma forma como a fiz durante todos estes anos. Com os pressupostos da competência, credibilidade, rigor e profissionalismo acima de todos os outros.

O matemático Alfred Rényi disse que "quando estou infeliz trabalho matemática para ficar feliz. Quando estou feliz, trabalho matemática para me manter feliz". O que o faz feliz? 
Estar em família, sobretudo com os meus filhos, estar com os amigos do “coração”, passear e ter a agradável sensação de que sou um felizardo na vida, a todos os níveis, faz de mim uma pessoa grata e feliz por natureza.

                                                                Por Carlos Marinho

Publicado/editado: 01/04/2018