Linhas e Pontos por Carlos Marinho - Evariste Galois: J´ai pas le temps!

Eixos de Opinião de outubro de 2018

Título: Evariste Galois - J´ai pas le temps

Muitas vezes damos por nós a pensar que determinada personalidade está ou esteve à frente do seu tempo. Acontece nas mais variadas áreas, desde a música, na saúde, no desporto, na cultura, na comunicação e, claro acontece também na matemática. Um desses casos, é sem dúvida Evariste Galois, um intrépido e génio matemático francês que com apenas 21 anos de idade e 5 ou 6 de estudo "amador" em matemática se veio a tornar um dos maiores matemáticos e umas das maiores personalidades de todos os tempos.

Galois com apenas 15 ou 16 anos de idade começou a usar a matemática de uma forma mais séria. O que se pergunta é: como é possível, o que terá feito Galois para se tornar em tão pouco tempo como um dos maiores fenómenos da ciência fazendo rodar o planeta mais rápido. Fez muito, deixou um legado escrito que viria a mudar e ajudar outros matemáticos e homens da ciência a trabalharem matemática com mais qualidade, a descobrirem outros resultados decisivos para o mundo evoluído que temos.

Faço outra pergunta: a matemática é assim tão importante para a evolução do planeta. A única resposta que me ocorre neste pequeno texto é, referir que sem os resultados obtidos por estes matemáticos o planeta estaria muito menos evoluído. A matemática é o motor que faz mover máquina. Para além disso, a história de vida de Galois é absolutamente notável, deixa qualquer um perplexo e interessado em saber como pensava esta pequena mente, que imensidão de conhecimento escondia na sua personalidade.

Galois nasceu perto de Paris em 1811, vinte e dois anos após a Tomada da Bastilha, época em que Napoleão Bonaparte se encontrava no seu apogeu. Foi um entusiasta pela política desde os 4 anos por influência do seu pai. Cresceu num período de grande agitação social e política, que marcou de forma negativa todo o seu percurso de vida. Tinha uma verdadeira paixão pela Matemática. O seu professor M. Vernier, alertado pela sua qualidade, aconselhou os pais a deixarem Galois dedicar-se apenas à matemática. Caso contrário, limitava-se a importunar os professores e a atrair castigos. Era descrito como estranho, original e fechado.  

A sua curta vida foi desenhada por polémicas e conflitos. Num banquete de protesto onde esteve Alexandre Dumas, autor da famosa personagem D’ Artagnan, os ânimos exaltaram-se e Galois  fez  um  brinde ao rei com um punhal na mão. Prenderam-no, mas  acabou  perdoado após um julgamento duro e difícil.  

Galois faleceu num duelo com um dos melhores atiradores de França. Um hipotético e proibido romance com a namorada deste, terá estado na origem deste inusitado confronto, que viria a roubar-lhe a vida, demasiado cedo. Na última noite da sua vida, prevendo um desfecho fatal e consciente que as suas descobertas iam morrer consigo, escreveu de uma forma indómita e contínua. Queria deixar tudo o que tinha descoberto e que estava nas profundezas do seu saber. Não conseguindo provar todas as coisas, ia escrevendo repetidamente em desespero nas margens: J´ai pas le temps

Apesar da sua tenra idade e no pouco tempo de vida que pôde dispor para trabalhar matemática, resolveu um grande problema em aberto, criou um novo ramo na álgebra e desenvolveu como ninguém a teoria de grupos.  O que terá ficado por descobrir... 

Falamos de Evariste Galois, um dos mais originais, irreverentes e indómitos matemáticos de todos os tempos. A 25 de outubro celebra-se o aniversário deste matemático que marcou a história da matemática com apenas 21 anos.

No dia 30 de maio de 1832, ouviu-se um disparo ecoando o 13º bairro de Paris. Um camponês que caminhava pelo local correu na direção de onde veio o disparo. Encontrou um jovem rapaz a contorcer-se com dores após ter levado um tiro num duelo. Galois foi levado para o hospital local mais próximo. Morreu no dia seguinte nos braços do seu irmão. As suas últimas palavras, para o irmão, foram: "Não chores por mim, Alfred. Eu preciso de toda a coragem que tiver para morrer aos 20 anos...”

Galois, fica para sempre como o mais jovem e promissor matemático da história. Definitivamente, uma personalidade matemática e rebelde à frente do seu tempo. Deixo uma reflexão para todos os professores de matemática deste país. Existirá nas nossas salas de aula na atualidade algum pequeno génio tipo Galois nos 60 metros quadrados das salas portuguesas? Nunca se sabe. Cada vez que um aluno saia fora da caixa expandindo o seu raciocínio, deixe-o pensar, promova o espirito da "coisa". 

Pense nisso...

Publicado/editado: 10/10/2018