Ideias não Orientáveis por Inês Guimarães - A matemática já está toda feita?

Eixos de Opinião de Dezembro de 2019

Inês Guimarães - Aluna de Mestrado em Matemática e Autora do Canal MathGurl no YouTube


Título: A matemática já está toda feita?

“A matemática já está toda feita?” é provavelmente uma pergunta que não passa muitas vezes (se é que alguma vez passou) pela vossa cabeça. Compreendo que se questionem mais frequentemente “onde é que eu pousei as chaves de casa?” ou “se eu não pagar ao meu exorcista, será que volto a ficar possuído?”. De qualquer modo, é uma pergunta sobre a qual vale a pena refletir. A maior parte de nós consegue enumerar algumas questões de outras ciências que ainda não têm resposta. Por exemplo, na psicologia, ainda não se sabe porque é que sonhamos; os físicos desconhecem a forma do universo; não se compreende como é que compostos químicos inanimados deram origem a formas de vida complexas, etc.  Mas qual é o aspeto de um problema em aberto na matemática?!

Quando eu vou dar uma palestra a alguma escola, gosto de lançar algumas questões aos alunos e esta é uma delas. São sempre capazes de me surpreender com respostas criativas, mas há SEMPRE alguém que responde “o pi”. Ao pedir uma justificação, dizem-me que ainda não se conhecem todos os seus algarismos. Seguidamente, ficam ligeiramente desconsolados quando explico que nunca ninguém irá determinar todos os dígitos do número pi, porque eles nunca acabam e, infelizmente, o ser humano tem um tempo de vida finito... Recentemente, recebi duas respostas a esta pergunta que achei muito engraçadas. Uma delas foi: “Bem, se calhar vamos descobrir uma nova operação para além do +, -, × e ”, enquanto os olhos brilhavam de entusiasmo com um pensamento do tipo “Uma nova operação! Oh meu deus, que fixe! Sacrificava 50 seguidores do meu Instagram só para saber qual seria”. A outra consistiu em “Se os números são infinitos, a matemática também deve ser, por isso nunca vamos saber a matemática toda!”. Adoro a imaginação e espontaneidade dos garotos.

Ao contrário do que se possa pensar, a matemática não é apenas a manipulação de fórmulas e símbolos complicados, e existem problemas por resolver cujo enunciado é até compreensível por uma criança de quatro anos. Abaixo listo alguns exemplos, embora a minha preguiça crónica me force a simplesmente apresentar os links para as respetivas páginas da Wikipédia, acrescentando, no entanto, uma breve e imprecisa descrição dos mesmos, como presente de Natal:

- Problema da caixa perfeita: será que existe uma caixa cujas dimensões (incluindo as diagonais) sejam todas números inteiros?

- Problema do sofá: qual a área máxima que um “sofá” 2D pode ter de forma a conseguir contornar um canto?

- Quantos sudokus possuem exatamente uma solução?

- Existe algum número perfeito ímpar?

- De quantas formas é que se pode dobrar um mapa?

Se, durante a ceia de Natal, quiserem calar aquele tio chato que faz sempre questão de vos recordar daquela vez em que fizeram cocó no tapete da vizinha, metam-no a pensar num destes bad boys. Este problema aqui vai mantê-lo particularmente entretido. Agradeçam-me depois, da forma que acharem mais conveniente... não sou esquisita, mas exijo no mínimo uma mala da Gucci forrada com o escroto de um bisonte asiático.

Se quiserem comentar este artigo, passem pela página de Facebook do Clube de Matemática e, se me quiserem chatear, escrevam para inesguimaraes42@gmail.com.

Muito obrigada e até daqui a um mês!

Publicado/editado: 19/12/2019