Daniela Gonçalves - Professora do Ensino Superior (Ver +)
Título: A propósito de uma observação de uma aula de matemática
Tive a sorte, muito recentemente, em observar uma aula de matemática numa turma de 11.º ano de escolaridade numa escola pública. Os pontos de focagem da observação estavam bem definidos: interações pedagógicas, competências e inclusão.
Após as boas-vindas da docente e da escrita do sumário, fiquei com a sensação de que seria mais uma “aula de treino” com vários exercícios e pouca sistematização da aprendizagem.
Foi tudo ao contrário.
O entusiamo dos alunos foi contagiante.
Toda a participação dos alunos foi valorizada e incentivada.
Todos os momentos, as perguntas, as respostas conduziram ao desenvolvimento do pensamento crítico, da resolução de problemas e da problematização do conhecimento. Se tivesse que classificar, daria nota máxima à sistematização e à reflexão sobre as tarefas e as aprendizagens realizadas.
Surpreendente, a capacidade de trabalho dos alunos. Não houve lugar para qualquer momento de paragem... Mas todos sabiam “o lugar onde estavam”.
“Maravilhoso” - disse uma aluna, a propósito de um resultado conseguido
O que é que fez a diferença nesta aula “maravilhosa”?
Arriscaria como resposta vários fatores. Não obstante, a estratégia de ensino da docente conduziu a uma apropriação, por parte dos alunos, que fez (faz) toda a diferença.
A formalização de uma estratégia de ensino estruturado exige etapas sequenciais e fortemente integradas, em que o professor, com e de propósito, procura acompanhar a aprendizagem dos alunos através de um elenco de ações organizadas em torno de três momentos: (i) a preparação e planificação, (ii) a interação com os alunos e o ensino propriamente dito e (iii) o acompanhamento, a avaliação, o feedback e a consolidação. Esta gestão das aprendizagens cruza-se com a organização da sala de aula, bem como do ambiente educativo: agrupamento de alunos (tamanho, função, duração, entre outros), estabelecimento de regras e a apresentação das atividades, tendo em conta não só o nível de competência dos alunos, como a complexidade das tarefas a cumprir e o tempo disponível para o efeito.
Todos os momentos foram apropriados e oportunos para ensinar com precisão, de modo claro e objetivo. Tudo foi dito (pela docente): o que irá ser ensinado, os métodos e as metas a atingir. Talvez o que a docente não disse (mas pensou) foi que todas as suas estratégias a mobilizar asseguraram uma interação eficaz com os alunos, facilitando a sua aprendizagem - os processos de avaliação - e de consolidação autónoma dos saberes.
Esta docente investiu no explícito.
E o explícito fez toda a diferença.