Intersecções por Daniela Gonçalves - Apontamentos sobre atividades pedagógicas e elementos da prática de ensino

Eixos de Opinião de maio de 2018

Título: Apontamentos sobre atividades pedagógicas e elementos da prática de ensino 

A neuroeducação pode ser entendida como uma nova área do conhecimento. Abrangendo a integração/intersecção entre a neurociência e a educação, possibilita ao ser humano a modificação de estruturas funcionais da aprendizagem e o aperfeiçoamento das operações das matrizes de inteligência, através do seu mapeamento cerebral, tornando possível a expressão máxima da sua potencialidade. As investigações mais recentes nesta área têm evidenciado resultados positivos e benéficos relativamente ao processo de aprendizagem, nomeadamente no que diz respeito aos alunos com dificuldades e/ou com baixo rendimento escolar. Não obstante, e apesar da área da neuroeducação não representar uma nova pedagogia, possibilita fundamentar a prática pedagógica e desenvolver a profissionalidade docente, apresentando-se como uma perspetiva orientadora da intervenção pedagógica, nomeadamente por demonstrar que existem estratégias de ensino que respeitam a forma como o cérebro aprende. De facto, parece-nos que as diferentes dificuldades escolares de aprendizagem que frequentemente limitam o sucesso no desempenho académico - desconcentração, falta de foco, distúrbio de memória, esquecimento, bloqueios na aprendizagem, por exemplo - podem ser melhor compreendidas e, portanto, enfrentadas, por professores que conhecem a neuroeducação. Nesta oitava intersecção, apresentaremos algumas atividades que, em nosso entender, deviamente intersectas com o(s)propósito(s) pedagógicos facilitam o processo de aprendizagem. 

Partindo do pressuposto que os elementos simples de uma tarefa de aprendizagem têm implicações complexas para o organismo, aceitamos que o conceito de aprendizagem é o processo pelo qual as experiências alteram o sistema nervoso (memórias) e, por sua vez, o comportamento. Portanto, não se trata de algo “armazenado”, mas sim algo que muda fisicamente a estrutura do sistema nervoso: altera os circuitos neurais da perceção, altera o padrão de execução dos comportamentos e, finalmente, altera as redes neurais envolvidas com o raciocínio e planeamento. 

De acordo com a diversidade de estratégias neurodidáticas, destacam-se as seguintes atividades pedagógicas que, em nosso entender, facilitam a aprendizagem eficaz e eficiente:

- trabalhos em grupo, gravação de vídeos sobre acontecimentos históricos, depoimentos e entrevistas (a aprendizagem é bastante visual, auditiva e sinestésica, para além as competências sociais); 
- implementação de diferentes métodos pedagógicos para chegar a todos os alunos (desafios e competições sem perdedores e vencedores, assim como tarefas com diferentes graus de dificuldade), utilizando preferencialmente o canal visual, não esquecendo do auditivo e do sinestésico;
- dedicar um momento/espaço/tempo da aula para piadas, canções, histórias, captando a atenção dos alunos e solicitando a participação de todos de forma ajustada; 
- antes de iniciar um tema, é necessário dedicar tempo à compreensão sobre o que os alunos já sabem sobre o assunto; 
- explorar a memória episódica - emoção, factos e visão; 
- promoção de jogos de interpretação de papéis e na resolução de problemas;
- desenvolvimento de condicionamentos - rimas, ritmos, músicas; 
- aposta em revisões frequentes, solicitando demonstrações e explicações

Neste contexto, e tendo em conta, essencialmente, a experiência adquirida no acompanhamento/supervisão na formação inicial e contínua de professores, partilhamos elementos relevantes na prática de ensino: 

I.  início de cada aula é determinante para o sucesso da mesma;
II.  antes de “avançar”, é necessário conferir e rever o trabalho do dia/semana anterior - muitas vezes temos que ensinar novamente, caso os alunos não tenham entendido o fundamental da mensagem da aula passada;
III.  a novidade é uma forma de motivar os alunos para o processo de aprendizagem; 
IV.  o trabalho orientado e o questionamento são essenciais para a superação de equívocos e para a apropriação quer do processo, quer dos conceitos; 
V.  as correções podem ser concretizadas a partir das respostas dos alunos. Trata-se de uma prática orientada com a presença contínua e continuada do feedback ao trabalho realizado;
VI.  o facto dos alunos a aplicarem aquilo que aprendem, individualmente e em grupo, tornando-os responsáveis pelo trabalho que realizam;
VII.  a avaliação é necessária e, portanto, deve acontecer sempre sobre aquilo que é ensinado, sabendo que, para tal, deveremos recorrer a modalidades avaliativas diversificadas e complementares. 

Não há uma ordem particular nestes elementos. São apenas elementos que podem ajudar na reflexão e ajustar as práticas de ensino às reais capacidades dos alunos, potenciando-as ao máximo. 

Ora, aqui ficam alguns apontamentos e um convite: é necessário que os professores analisem as suas práticas no sentido de as compreender; é necessário que os professores dialoguem entre si sobre as questões essenciais e partilhem experiências, implementando, de acordo com Shulman (2000), «scholarship of teaching and learning». 

Publicado/editado: 08/05/2018