N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - 11 de Abril: Dia Mundial da Doença de Parkinson

Eixos de Opinião de Março de 2021

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: 11 de Abril: Dia Mundial da Doença de Parkinson

Abril é um mês importante em Portugal. Abril é um mês com muito significado para mim (o mês em que nasceu e em que morreu a minha mãe). E Abril é um mês importante a nível mundial. No dia 11 assinala-se o dia mundial da doença de Parkinson, em memória de James Parkinson, médico e activista Inglês nascido neste dia, em 1755, que registou a primeira descrição da doença que, mais tarde, viria a receber o seu nome. Esta descrição foi publicada em 1817, há mais de 200 anos, e assentou na observação que Parkinson fez de (apenas) 6 pessoas com sintomas muito característicos. Depois de todo este tempo a descrição original continua bem próxima da definição que hoje usamos e que assenta ainda, e surpreendentemente, essencialmente na observação clínica dos doentes. 

Cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo, e 18 mil em Portugal, sofrem de doença de Parkinson. Uma comparação com a actualidade diz-nos que, a doença terrível que tem mudado as nossas vidas, causou cerca de 17 mil mortes no nosso país, em pouco mais de um ano. A doença de Parkinson afecta a vida de 18 mil pessoas todos os dias. 

Devemos saber reconhecer a doença, falar sobre ela, pensar nela, e precisamos de continuar a descobri-la, pois oculta ainda muitos mistérios. Clinicamente, é reconhecida pelos seus sintomas motores, como o tremor em repouso, rigidez, movimentos lentificados, e instabilidade postural. No entanto, vários outros sintomas não-motores são também característicos e frequentes, como a fadiga, depressão, perda do olfacto, e distúrbios do sono, entre outros. No seu conjunto, são sintomas terríveis, que progridem inexoravelmente, e que “roubam” a vida normal dos doentes e dos seus cuidadores.

A ciência tem-nos ensinado muito sobre esta doença, através do estudo do cérebro dos doentes, do sangue, da saliva, do liquor... e através de estudos em modelos laboratoriais em que procuramos reproduzir as características que achamos mais relevantes. Mas não temos ainda modelos perfeitos e, incrivelmente, a biologia da doença é ainda mal conhecida. Por isso mesmo, há várias iniciativas internacionais em curso para procurarmos integrar o conhecimento e assim actualizarmos a definição da doença. Isto será essencial para podermos diagnosticar mais cedo, e tratar as causas da doença, e não apenas os sintomas.

Os próximos anos são de esperança, pois há muita investigação de qualidade em curso. Mas precisamos de estar unidos, de falar da doença diariamente como se de Covid-19 se tratasse. Precisamos de alertar, de desmistificar, de descomplexar. E precisamos de cuidar de quem precisa. 

Quando pensamos no 25 de Abril, pensamos no cravo vermelho. Quando penso na minha mãe, penso numa estrela no céu. Quando pensamos na doença de Parkinson, devemos pensar numa tulipa vermelha. Esta associação resulta da dedicatória feita por J.W.S. Van der Wereld, um horticultor Holandês que teve doença de Parkinson, e que dedicou a tulipa vermelha que desenvolveu, a James Parkinson. Ele descreveu a sua tulipa vermelha como: “exterior de um vermelho cardial exuberante, com bordas brancas como penas, e base exterior esbranquiçada; o interior de um vermelho-groselha a um vermelho-turquia, extremidades de plumas largas, anteras amarelo-pálido.” Uma descrição rica, para uma doença que não devemos esquecer, e que precisamos de tratar. Dia 11, pelo menos, vamos assinalar.

#MDS4Parkinsons,       #UniteforParkinsons

Publicado/editado: 23/03/2021