N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - Entusiasmo renovado: novas esperanças nas doenças neurodegenerativas

Eixos de Opinião de Abril de 2022

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: Entusiasmo renovado: novas esperanças nas doenças neurodegenerativas

Dois anos depois do início da pandemia, eis que começamos a poder retomar alguma normalidade na nossa vida de cientistas, nomeadamente no que diz respeito ao encontro presencial com outros colegas em congressos científicos. Estes congressos são momentos únicos para a troca de informações, experiências, e conhecimento, e mudaram de forma durante os tempos em que a pandemia limitou, e impediu, viagens internacionais. Durante esse tempo, fomos avatares atrás dos ecrãs, fomos apenas imagem e som em vídeo conferências. Usámos estas ferramentas e percebemos que são muito úteis em determinadas situações. Mas também percebemos que não substituem os encontros presenciais, que permitem outro tipo de partilha, interacção, e discussão científica.

Recentemente, voltei a participar presencialmente em congressos maiores, e isso permitiu ouvir, em primeira mão, resultados recentes de vários estudos que decorreram nos últimos anos.

Num congresso chamado ADPD (sobre as doenças de Alzheimer e Parkinson), que decorreu em Março em Barcelona, confesso que senti algum entusiasmo ao ouvir apresentações de alguns colegas. Mostraram novos resultados de ensaios clínicos nestas doenças e, apesar de serem ainda preliminares, e com resultados tímidos, parece haver motivo para alguma esperança, uma vez que parecem existir alguns efeitos clínicos. Seria fantástico que estes resultados fossem confirmados, para nos mostrar que estamos no caminho certo, e que devemos continuar a apostar em algumas estratégias que, pelos falhanços anteriores, nos devem fazer até coloca-las em causa. 

Foram apresentados também resultados muito promissores ao nível de estratégias que podem auxiliar o diagnóstico da doença de Parkinson e outras doenças da mesma família, a que chamamos “sinucleinopatias”. Neste caso, trata-se de um possível exame de imagem para observar a patologia no cérebro dos doentes, algo que já é possível na doença de Alzheimer, mas que não está ainda estabelecido nas sinucleinopatias. A confirmar-se, será um grande avanço, e irá revolucionar a forma como testamos possíveis intervenções terapêuticas.

A 1 e 2 de Abril, no Luso, decorreu o congresso da Sociedade Portuguesa de doenças do Movimento (www.spdmov.org), e contou com a participação de mais de 250 inscritos. Este congresso é muito importante para permitir a partilha dos avanços científicos nesta área, e também para contribuir para a formação de jovens especialistas. Depois de dois anos sem encontros presenciais, foi também uma lufada de ar fresco podermos estar juntos, e assistir a apresentações científicas de grande qualidade.

Por fim, gostaria de destacar um estudo que li recentemente e que me deixou também animado e esperançado. Há muito que sabemos que o envelhecimento é o maior factor de risco para o aparecimento de doenças neurodegenerativas. Há muito também que sabemos que a doença de Alzheimer é mais frequente nas mulheres do que nos homens. Mas a verdade é que não sabemos bem o porquê destas relações. Num estudo publicado na revista Nature, em Março, os investigadores estabeleceram uma relação entre a transição para a menopausa, gordura visceral, e perda de massa óssea. No estudo, mostraram que a inibição da ação de uma hormona feminina chamada hormona folículo estimulante (FSH) em animais de laboratório reduz significativamente sintomas semelhantes aos de Alzheimer nestes animais. Este estudo abre assim uma grande esperança para o tratamento não só da doença de Alzheimer, mas também de outros problemas associados com o envelhecimento nas mulheres, como a osteoporose.

É entusiasmante voltar ao contacto presencial, e poder partilhar notícias promissoras para problemas tão sérios como as doenças neurodegenerativas. Vamos torcer para que os próximos anos confirmem estas e outras descobertas!

Publicado/editado: 22/04/2022