N(eur)ónios por Tiago Fleming Outeiro - Igualdade entre iguais: um assunto que não devia ser

Eixos de Opinião de Julho de 2021

Tiago Fleming Outeiro - Director of Department of Experimental Neurodegeneration Center for Nanoscale Microscopy and Molecular Physiology of the Brain - University Medical Center Goettingen (Ver +)


Título: Igualdade entre iguais: um assunto que não devia ser

Vivemos tempos em que se fala de “género”, e em que a biologia deixou de ser suficiente para a humanidade. Mas é esta humanidade que nos torna iguais.
Se, geneticamente, somos 99,9% iguais, com toda a diversidade existente, porque insistimos em focar-nos nos 0,1% de diferenças? 

Vivemos tempos em que, infelizmente, ainda precisamos de promover a igualdade. Em pleno século XXI, ainda precisamos ensinar que não se justifica descriminar, desconsiderar, ou menosprezar alguém pela diferença. 
Os 0,1% de diferença genética, que tornam os homens biologicamente mais “fortes”, não justificam nenhum tipo de domínio sobre quem possa ser fisicamente menos musculado, ou densidade óssea mais baixa. Da mesma forma, poderíamos então justificar que quem tem dois cromossomas “X”, tradicionalmente reconhecido como “mulher”, pudesse dominar quem tem apenas um, uma vez que desempenha um papel ímpar na espécie humana por permitir a gestação de outro ser da mesma espécie.

Tenho lido vários estudos e artigos de opinião, e não consigo deixar de ficar surpreendido com o que ainda é realidade em sociedades que, erradamente, julgamos evoluídas: que as mulheres são menos remuneradas do que os homens pelo mesmo trabalho, que a distribuição de tarefas domésticas não é equitativa, que o acesso à educação é diferente, etc, etc, etc.
Não sou feminista, longe disso. Não acho saudável que tenhamos que ter “quotas” para mulheres, raças, ou religiões, pois isso é discriminar. Mas entendo a necessidade de o fazer, para assegurar igualdade, principalmente em áreas em que as diferenças ainda são vincadas.
Precisamos de falar, de educar, de mudar. Mas precisamos de dar o exemplo, nas coisas simples que estão ao nosso alcance. Sem exageros, sem demagogias, sem complexos. Aceitando a diferença com respeito. Mas sabendo também ser tolerante, dos vários lados, pois só assim ultrapassaremos as diferenças.

Como homem, também não quero ser discriminado ou prejudicado no meu acesso ao mundo que me rodeia, às minhas opiniões. Quero ser igual, porque somos todos iguais. Como li recentemente, numa entrevista a Nelson Marques sobre um livro que publicou, quero ser livre, e desejo que o assunto da igualdade deixe de o ser.

 

Publicado/editado: 23/07/2021