Quadrantes por Francisco Fernandes - O Infante D. Henrique e a sua pretensa escola de Sagres...

Eixos de Opinião de Novembro de 2021

 

 

 

 

Francisco Fernandes - Arqueólogo e Professor de História


Título: O Infante D. Henrique e a sua pretensa escola de Sagres...

A 21 de novembro de 1471, faz hoje 550 anos, falecia no Funchal João Gonçalves Zarco, navegador e cavaleiro fidalgo da casa do Infante D. Henrique, encarregue de organizar e povoar a ilha da Madeira.

Zarco participou, bem como a maioria dos cavaleiros portugueses, na conquista de Ceuta em 1415, data que marca o início da epopeia expansionista portuguesa.

Mas não é de Zarco que iremos falar hoje. A sua inclusão nesta parte introdutória serve apenas como exemplo da mudança da linha política portuguesa relativamente à necessidade e rumos da expansão.

Com o fracasso económico que a conquista de Ceuta proporcionou, Portugal lançou-se assim numa expansão marítima que pretendia atingir a Índia por via marítima, navegando por “mares nunca dantes navegados”, tendo a Escola de Sagres, fundada pelo infante D. Henrique, tido um papel decisivo no estudo e formação de pilotos e marinheiros, permitindo assim a navegação marítima no Atlântico Sul.

Ainda hoje quem visita o local vê na fortaleza de Sagres, inúmeros vestígios que referem ser da antiga Escola de Sagres, fundada por D. Henrique no século XV, e onde ele reuniu vários sábios de diferentes países que possuíam conhecimentos avançados de astronomia, geografia e cartografia.

Mas terá mesmo existido uma Escola em Sagres que contribuiu com os seus conhecimentos e ensino para as viagens marítimas portuguesas?

A resposta é clara. Não. 

Partindo de uma ideia patente num texto do século XVI de João de Barros, Oliveira Martins, no século XIX, idealizou a Escola de Sagres, descrevendo-a como um local onde o infante D. Henrique se encontrava mergulhado na leitura de livros de geografia e astronomia, bem ao jeito da corrente romântica que depois foi aproveitada já no Estado Novo para elevar a figura do infante e dos feitos portugueses.

Oliveira Martins colocou mesmo o infante a ler obras que à data da sua morte ainda nem sequer tinham sido lançadas, num local onde o infante teria fundado uma vila, ideia errada pois o local onde o infante fundou uma vila foi no cabo de S. Vicente e não em Sagres.

Além disso, a sede das viagens marítimas não foi Sagres mas sim Lagos, uma vila que chegou a ser capital do Algarve, com condições como uma larga baía ideal para a navegação, onde terá mesmo existido uma verdadeira escola náutica, fruto da tradição marítima e proximidade com o norte de África.

Afinal a verdadeira escola do Infante, o Navegador, foi mesmo o espírito sagaz e aventureiro dos navegadores portugueses, aqueles que normalmente a história não record anonimamente, bem ao contrário daquele a quem Oliveira Martins apelidou de Navegador, sendo que a única viagem que D. Henrique fez foi até ao Norte de África, quando participou com o seu sobrinho, rei D. Afonso V, na conquista de Alcácer Ceguer.

 

Publicado/editado: 22/11/2021