Quadrantes por Francisco Fernandes - Presépio de Belém ou Presépio de Assis?

Eixos de Opinião de Dezembro de 2021

 

 

 

 

Francisco Fernandes - Arqueólogo e Professor de História


Título: Presépio de Belém ou Presépio de Assis?

Já anteriormente publicamos um Quadrante sobre o tema do nascimento de Jesus, aquela data mágica onde cerca de 2,18 biliões das cerca das 7 biliões de pessoas deste mundo, celebram o nascimento de Jesus Cristo, uma festa denominada Natal.

Verificamos como esta data foi escolhida pela Igreja Católica para substituir as Saturnálias, antigas festas romanas, pois quer nelas quer no Natal, está presente o mesmo espírito de alegria, do nascimento e da vida, no fundo a regeneração e a dádiva entre todos os homens iguais entre si.

Hoje vamos procurar explorar a representação simbólica, usando figuras, vivas ou não, daquele momento único e tão marcante, que serve de base ao nosso calendário gregoriano, a noite do nascimento de Jesus.

É bastante conhecido que foi S. Francisco de Assis o criador do presépio, tal qual o conhecemos.

Em 1223, numa gruta nas imediações da povoação italiana de Greccio, na região do Lácio, S. Francisco de Assis montou uma recriação com figuras de argila representando Jesus, Maria e José, juntamente com dois animais vivos, um boi e um burro, procurando assim ensinar a população local da importância da data que, relembramos, só no século IV foi introduzida pela Igreja Católica.

Presépio, termo que vem do latim Praesaepe, significa estrebaria ou curral e foi tão bem aceite e de tão fácil compreensão, pois demonstrava o ideal de humildade e despegamento dos bens materiais que S. Francisco de Assis apregoava, que se foi espalhando por toda a Europa, acrescentando-se depois mais figuras à cena, cada uma com uma simbologia e significado próprio.

Em Portugal, os registos mais antigos da execução de um presépio em barro remontam ao século XVI, referência encontrada em textos do teatro vicentino, mais concretamente no Auto dos Reis Magos e no Auto dos Quatro Tempos, tendo esta última sido levada à cena durante o Natal para o rei D. Manuel, na capela de S. Miguel que se situava no paço de Alcáçova.

Sabemos que no século XVIII, a sua tradição já se encontrava bem enraizada na nossa cultura, hábito que também a partir dessa data sai de interior das igrejas onde era montado, para o interior das casas das pessoas mais abonadas.

Hoje em dia, o Presépio foi perdendo o seu lugar, substituído apenas pela árvore de Natal, símbolo mais pagão do que cristão, mas bem demonstrativo de uma sociedade de consumo que vive mais para o material do que o espiritual.

Contudo, esperemos que este Quadrante ajude a recuperar aquilo que é verdadeiramente mais importante celebrar, a família e a partilha de amor entre todos, com o exemplo de humildade que S. Francisco de Assis recriou.

Um Santo Natal para todos e um 2022 repleto de mais Quadrantes.

Publicado/editado: 21/12/2021