Quadrantes por Francisco Fernandes - Salazar, Misógino e Poupado ou Mulherengo e Gastador?

Título: Salazar, Misógino e Poupado ou Mulherengo e Gastador?

A 28 de abril de 1889 nascia em Santa Comba Dão, António de Oliveira Salazar.

Filho de caseiros humildes da família Perestrello, após completar o ensino primário, ingressa no seminário de Viseu onde ficou até 1908, o ano do regicídio de D. Carlos.

Em 1910 ingressa em Direito em Coimbra, concluindo os estudos em 1914 com a mais alta classificação, 19 valores, que lhe valeram a entrada nos quadros, primeiro como assistente , tornando-se depois regente da cadeira de Economia Política e Finanças e completa o seu doutoramento em 1918.

Com o golpe de estado que derrubou a 1ª república e instaurou uma ditadura militar em Portugal em 1928, é convidado para ministro das Finanças, tornando-se depois presidente do conselho de ministros.

O homem que governou o país durante  35 anos (de 1933 a 1968) no governo ditatorial denominado Estado Novo, criou a imagem de um homem que vivia isolado, um asceta que não se interessava por mulheres, poupado para quem o dinheiro não tinha importância movido apenas pelo bem da Nação.

Esta imagem de um homem superior a todos, ungido por Deus para salvar todos os portugueses, ficando fechado no seu gabinete a trabalhar como salvador da pátria, encontrava eco na propaganda típica do regime, sendo até bem patente nos manuais escolares, nas sessões da Legião e Mocidade Portuguesa e até pelos meios de comunicação.

Mas Salazar seria mesmo assim ou esta era apenas a imagem que o regime queria que ficasse conhecida?

Salazar efetivamente morreu solteiro. Contudo, investigações recentes de historiadores descrevem um homem totalmente diferente daquela que o regime tentou fazer transparecer.

Afinal Salazar gostava bastante de mulheres, sendo-lhe conhecidos vários casos amorosos. Alguns deles são já comprovados, tendo-se envolvido, pelo menos, com 8 mulheres, Felismina Oliveira, Júlia Perestrello (filha dos antigos patrões dos seus pais), Maria Laura campos, a astróloga Maria Emília Vieira, a viscondessa Carolina Asseca, Maria da Conceição Marques, Mercedes Feijó e a jornalista francesa Christine Garnier.

A cada dia, são descobertos muitos outros casos amorosos fazendo cair por terra a imagem do homem casado com a nação. Afinal, o poder era mesmo o maior afrodisíaco.

Outra imagem de Salazar retrata-o como um ermita, vivendo isolado em S. Bento a trabalhar sempre por Portugal, é também desmentida por muitos contemporâneos, que relatam as inúmeras viagens que fez, como de Lisboa a Paris de comboio, ou os inúmeros passeios de carro por Espanha, visitando vários locais e mesmo o Museu do Prado, onde demorou bastante tempo.

Por fim, a imagem corrente do homem despojado de interesses e bens mundanos, para quem a poupança era um bem maior e primordial para todos, em nada corresponde à vida que Salazar efetivamente vivia.

Todos os anos encomendava fatos, gravatas e sobretudos, especialmente á alfaiataria Damião, o mais conceituado alfaiate de Coimbra. Em 1925 na Madeira, onde foi proferir 2 conferências, gastou quase mil escudos em bordados, e ao longo da sua vida foi gastando à medida do que ganhava e, aquilo que ganhava não era pouco.

Além do ordenado como professor universitário, cobrava avultadamente os pareceres jurídicos para diversas instituições, como o banco de Portugal, a Moagem e o Crédito Predial, semelhantes proporcionalmente aqueles que hoje são cobrados pelas maiores sociedade de advogados, possuía uma quota na Coimbra Editora que lhe rendia uma pequena fortuna, e o ordenado como Presidente do Conselho de Ministros era também bastante significativo. 

Uma vida afinal tão contrária aquela que apregoava nos seus discursos e nas políticas adoptadas “uma administração clara e transparente como qualquer boa dona de casa, uma política comezinha e modesta que consiste em se gastar bem o que se possuí, não entrando em estravagâncias ou luxos”.

Caso para concluir “Que bem pregava o frei Tomás”.